CONVERSA SÉRIA

EDUCAÇÃO – QUEBRANDO O SILÊNCIO

Quando falamos sobre prevenção ao abuso de crianças, a educação sexual é a
ferramenta mais poderosa para
evitar e combater a violência sexual. Não se trata apenas de falar sobre partes íntimas ou “de
onde vêm os bebês”. Ela tem
que ver com o processo de ensino e aprendizagem sobre a sexualidade humana, que engloba
emoções, respeito e conhecimento do corpo, relacionamentos e autoestima.
O processo de desenvolvimento da sexualidade da criança depende da educação sexual
que ela recebe. Por isso, estamos falando da formação da
identidade e da personalidade
dela. Estudos apontam que a
criança que é bem orientada
quanto a esse aspecto tende a ter
uma visão mais positiva do seu
corpo, é capaz de desenvolver relacionamentos mais saudáveis,
tem melhor rendimento escolar, cresce com sua identidade e
autoestima mais sólidas, consegue perceber mais fortemente a
afetividade dos pais e acredita
que pode confiar mais neles.
Para começar esse processo de
ensino sobre autoproteção, sugiro que você apresente à criança
quatro conceitos básicos: consentimento, limite corporal, intimidade e tipos de toques.

  1. Jamais insista para que a criança ofereça carinho ou interaja com quem ela não
    se sinta bem naquele momento. É muito
    comum forçarem as crianças a beijar ou
    abraçar quem não querem. Isso atrapalha
    diretamente a formação do direito sobre o
    corpo, o limite corporal e a compreensão
    sobre consentimento. Quando estiver fazendo qualquer brincadeira com ela, como
    cócegas ou girar, por exemplo, e a criança
    pedir que pare: pare! Ensine que “ não” e
    “ pare” são pedidos importantes que precisam ser atendidos.
  2. Não permita que ninguém faça piadas
    ou comentários sobre as partes íntimas do
    seu filho. Já acompanhei muitos casos nos
    quais avós, tias e outros parentes diziam
    coisas relacionadas às genitálias das crianças. Nem os pais devem fazer esse tipo brincadeira, pois pode erotizar a criança, dificultar seu aprendizado sobre intimidade, privacidade e limite corporal, deixá-la mais vulnerável ao abuso e ainda levar a criança a praticar isso com outras crianças.
  1. É fundamental deixar claro para seu
    filho quais são as partes íntimas: pênis, vulva, bumbum e mamilos. De maneira prática,
    fale que partes íntimas são as partes cobertas
    pela calcinha, cueca e biquíni.
  2. Nunca diga à criança: “ Ninguém pode
    tocar em suas partes íntimas.” Isso não é verdade. Em algumas situações haverá alguém
    que poderá, fora você. Por isso, é fundamental a criança saber quem pode tocar, quando pode tocar e como pode tocar.
    Quem pode. Nomeie com a criança as
    pessoas que fazem parte da rede de proteção dela, isto é, aquelas que compõem a sua
    rede de apoio. Isso vai depender do contexto
    de cada família.
    Quando pode. Mesmo fazendo parte da
    rede de proteção, precisamos deixar claro
    para ela quais são os momentos em que essas pessoas podem tocá-la. Por exemplo: no
    banho, para higienizar após o xixi e o cocô,
    para passar algum remédio (se necessário)
    ou no exame pediátrico.
    Como pode. Esclareça como deve ser esse
    toque de cuidado. Ele tem duas características: é rápido (só o tempo de limpar, lavar
    e examinar) e não pode ficar em segredo.
    Por isso, oriente: “Filho, se alguém tocar
    em seu corpo e pedir que não conte pra ninguém, é sinal de que essa pessoa não quer
    o seu bem. Conte-me logo. Eu sempre vou
    acreditar em você!” O segredo é uma das
    ferramentas mais poderosas do abusador.

COMO COMEÇAR A FALAR SOBRE EDUCAÇÃO SEXUAL?

  1. Busque conhecimento. Não tem como
    educar a criança sobre sexualidade com
    o pouco conhecimento que a maioria dos
    pais possuem. A família é soberana na educação sexual dos filhos.
  2. Adquira livros infantis sobre o tema,
    conheça músicas, dinâmicas e atividades.

A linguagem e as ilustrações ajudam muitos pais a transmitir os
conhecimentos e as crianças a aprender.

COMO EM QUALQUER PROCESSO EDUCACIONAL, A EDUCAÇÃO SEXUAL TAMBÉM DEVE SER
SISTEMÁTICA E INTENCIONAL

  1. Utilize situações cotidianas, como a hora do banho ou
    troca de roupas, para ensinar
    sobre como o corpo é importante e especial, como Deus o
    criou tão perfeito e como proteger cada parte dele.
  2. Sempre que a criança fizer
    uma pergunta sobre sexualidade, não ignore ou diga que ela
    não tem idade para saber. Se não
    souber a resposta, diga-lhe que
    vai pesquisar e responder em
    breve. Cumpra a promessa feita.
  3. Apresente à criança o que
    a Bíblia diz sobre nosso corpo. “Filho, seu corpo é a morada do Espírito Santo. Por isso,
    Deus deixou escrito o que devemos comer e como cuidar dele.
    E agora eu estou ensinando a
    você sobre como protegê-lo de
    toques que não fazem bem.”
  4. Use histórias bíblicas para
    oferecer educação sexual às
    crianças. Exemplo: A mulher
    com fluxo de sangue e outros
    milagres.
    Esses ensinamentos não podem acontecer de forma esporádica ou somente em uma
    conversa. É necessário que seja
    no cotidiano, pois como em
    qualquer processo educacional,
    a educação sexual também deve
    ser sistemática e intencional.

Portanto, seja protagonista da formação da sexualidade dos seus filhos.

LEILIANE ROCHA é psicóloga e criadora do programa Esepas (Educação
Sexual, Emocional e Prevenção ao Abuso Sexual). Ela usa as mídias
sociais para alertar pais e cuidadores sobre o problema (instagram.com/
leilianerochapsicologa)

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