O TERMO “GÊNERO”, NO CONTEXTO DESTE ARTIGO, É O SEXO ATRIBUÍDO, CORRESPONDENTE AO ÓRGÃO SEXUAL COM QUE O INDIVÍDUO NASCEU (PÊNIS É MASCULINO, VAGINA É FEMININO). NA IDEOLOGIA DE GÊNERO, ALGUÉM TER NASCIDO COM O ÓRGÃO SEXUAL MASCULINO OU FEMININO, NÃO FAZ COM QUE SE IDENTIFIQUE OBRIGATORIAMENTE COMO HOMEM OU COMO MULHER
Quando se fala de medicina e biologia, há importantes considerações a serem feitas sobre o assunto e que merecem ser levadas em conta. Os guevedoces (“pênis aos 12”), por exemplo, são uma prova de que a biologia define o sexo masculino ou feminino. Cientistas estudaram essa condição genética rara na República Dominicana, local onde se encontraram muitos meninos que nascem sem o pênis por deficiência de uma enzima ligada à formação completa dos órgãos sexuais masculinos, ainda no útero. Estes meninos eram criados como meninas até a puberdade, quando ocorre a segunda onda de testosterona, então, nascendo músculos, testículos e pênis.
Quem estudou esta condição incomum foi a Dra. Julianne McGinley, do Cornell Medical College, em Nova York, Estados Unidos, onde dá aulas e realiza pesquisas na área de Endocrinologia. Ela explica que cerca de oito semanas após a concepção, os hormônios sexuais aparecem. Se o feto é geneticamente homem, o cromossomo Y instrui as gônadas a virarem testículos e envia testosterona para a estrutura chamada tubérculo. Lá, ela é convertida em hormônio mais potente, a dihidrotestosterona pela enzima 5-alfarredutase, e este hormônio transforma o tubérculo num pênis. Se o feto é mulher e não há produção uterina de dihidrotestosterona, o tubérculo vira o clitóris.
Suas pesquisas mostraram que, na maioria dos casos, os novos órgãos masculinos funcionam bem e a maioria dos guevedoces passa a viver como homem. O interessante é que esses meninos, apesar de criados como meninas, em sua maioria demonstraram preferências sexuais heterossexuais. Ela concluiu que os hormônios no útero têm um papel mais decisivo sobre a orientação sexual do que o tipo de criação recebido.
Pamela Puppo é cientista, com doutorado em Biodiversidade, Genética e Evolução na Universidade do Porto, e trabalha num centro de pesquisas em biodiversidade e biologia evolucionária. Em seu artigo Sobre a ideologia de gênero ela comentou: “Não aceitar ideologia de gênero não é discriminação, não é ser intolerante nem homofóbico. É simplesmente biologia. […] O fato de nascer homem ou mulher não é um fato cultural, é biológico. […] A ideologia de gênero não promove a igualdade entre os sexos. Promove a assexualização do ser humano. […] Essa ideologia é uma corrente de pensamento, não uma teoria científica, muito menos uma evidência científica.”
Disforia de gênero
Em janeiro de 2017, a revista Ser Médico, do Conselho de Medicina do Estado de São Paulo, publicou uma entrevista sobre disforia de gênero com a psicóloga Peggy CohenKettenis. Atualmente, Peggy atua no departamento de Psicologia Médica e no Centro de Perícias em Disforia de Gênero do Centro Médico da Universidade Vrije, em Amsterdam, na Holanda. Também desenvolve pesquisas no departamento de Psicologia Clínica da Universidade de Utrecht, na Holanda. Sobre o assunto, disse que crianças podem demonstrar comportamentos de gênero antes dos três anos de idade e que, provavelmente, não serão futuros adultos com disforia de gênero.
Crianças com diagnóstico de desordem de identidade de gênero nem sempre permanecem assim ao entrarem na puberdade. Estudos realizados mostram que há famílias que confundem e insistem que seus fi lhos são transexuais, quando, de fato, não são. Peggy cita um estudo no qual crianças que já viviam completamente no papel do sexo oposto tiveram problemas para dizer aos pais que queriam mudar de volta.
No artigo Dores Crescentes: Problemas com Supressão na Puberdade no Tratamento da Disforia de Gênero, Paul Hruz e Paul McHug5 falam sobre os perigos do uso de hormônios na adolescência para jovens com disforia de gênero. Segundo esses dois especialistas, os melhores estudos sobre o assunto concluíram que a maioria das crianças com disforia de gênero passam a aceitar seu sexo de nascimento.
Alguns fatores psicológicos, ligados a conflitos subconscientes ou inconscientes, em jovens e adultos que sofrem com disforia de gênero:
- Rejeição severa na infância por colegas, criando intenso medo de rejeição ligada à crença inconsciente de que se sentiria seguro se fosse do sexo oposto.
- 2. Experiências severas de traição em relação à pessoa com que esperava casar, gerando intenso medo e crença inconsciente de que seria mais seguro se fosse do outro sexo.
- 3. Visão negativa na infância sobre masculinidade por causa de raiva excessiva de figuras masculinas importantes para o menino.
- 4. Imagem pobre do corpo e sensação de fracasso achando que seria mais atrativo e autoconfiante se fosse do sexo oposto.
- 5. Em meninos com talentos artísticos, haveria forte apreciação pela beleza, coisa mais comum na feminilidade, facilitando um desejo de ser feminino por gostar de seus talentos.
- 6. Nas meninas fortes haveria um amor pelo que elas percebem como força masculina e tratamento preferencial para machos.
- 7. Em meninos, severa rejeição por parte da mãe, com crença inconsciente de que poderia ganhar o amor dela se ele se tornasse menina.
- Forte raiva e desconfiança da mãe sobre masculinidade
O que fazer quando o meu filho tem conflitos na esfera sexual?
1.Aumentar a qualidade do tempo com o pai.
2. O pai aumentar a afirmação dos dons masculinos do filho, participar e dar apoio aos esforços criativos do filho.
3. Instruir e apoiar o filho no desenvolvimento de confiança e habilidades atléticas.
4. Lentamente diminuir o brincar com brinquedos do sexo oposto.
5. Animar o menino a ser agradecido por seus talentos masculinos.
6. Pai e mãe se comunicar com outros pais cujas crianças se submeteram ao tratamento do transtorno de identidade de gênero, e que conseguiram resultados positivos ao seguirem o sexo original.
7. Ajudar mães com conflitos emocionais que as levam a querer que seu filho seja uma menina. 8. Nas famílias religiosas, ter gratidão pelos dons divinos de masculinidade.
E se for a minha filha?
1. Encorajar a filha a apreciar as coisas boas de sua feminilidade, incluindo seu corpo, e desenvolver amizades e atividades com crianças do mesmo sexo.
2. Melhorar a qualidade do tempo gasto entre mãe e filha.
3. Trabalhar com a filha para ela perdoar colegas que a machucaram.
4. Animar a filha a ter equilíbrio nas atividades atléticas.
5. Abordar os conflitos dos pais que querem que sua filha seja um menino. 6. Em famílias religiosas, ter gratidão pelo dom divino da feminilidade.
Cesar Vasconcellos de Souza é psiquiatra, especialista em Psiquiatria pela Associação Brasileira de Psiquiatria e Associação Médica Brasileira, membro da American Psychosomatic Society, escritor, apresentador do programa “Claramente” na TV Novo Tempo, pai de um casal de filhos e avô de cinco netos.