UMA VISITA À FAMÍLIA DE ELLEN WHITE

Ellen cresceu em um lar cristão, mas ela e sua família foram excluídos da Igreja Episcopal Metodista de Portland, em 1843, por aceitarem a mensagem milerita. Apenas “quatro dos oito filhos da família Harmon tornaram-se observadores do sábado – Ellen, Mary, Sarah e Robert Jr., que morreu em 1853 de tuberculose, com a idade de 27 anos. Tanto o pai Robert, como a mãe Eunice, se tornaram adventistas observadores do sábado” . Ellen escreveu a respeito de sua família, que “embora, no que diz respeito ao dever religioso, não concordassem em todos os pontos, era um o coração deles”. Ela trabalhou intensamente em favor de sua irmã gêmea Elizabeth, apelidada de Lizzie. Embora tenham permanecido próximas, seguiram caminhos bem diferentes no que se diz respeito a escolhas religiosas, e, ao que tudo indica, nunca aceitou Jesus como seu Salvador.

Ellen viveu um casamento muito abençoado com Tiago White. Foram quase 35 anos de vida conjugal “alicerçada em amor mútuo e na convicção de que as visões de Ellen eram de origem divina. O público considerava Ellen a evangelista e Tiago, o organizador.”3L. H. Christian, antigo líder adventista, escreveu: “Como marido e mulher, eles formavam uma equipe evangelística sólida e inigualável. Seu método e divisão de trabalho eram perfeitos. Os adventistas nunca mais tiveram algo parecido.” Mas isso não significa que não tenham enfrentado problemas e dificuldades.

Tiveram um início de casamento com muita privação e pobreza. Eram jovens, inexperientes, mas com o propósito de se dedicarem à obra de Deus. Por vários anos, moraram em casas de outras pessoas e trabalharam sem salário. Quando a doença atingiu Tiago, as coisas em casa se tornaram mais tensas e complicadas. Ele desenvolveu a tendência de ser exigente demais e ditatorial. Escreveu Herbert Douglass: “Ao experimentar os efeitos de diversos derrames e o avanço da idade, pensamentos de desânimo e ressentimentos o assaltavam.”

Num desses momentos mais delicados, Ellen, então com 49 anos, escreveu a seu marido: “Lamento haver dito ou escrito algo que o magoou.6 Estamos vivendo em um tempo muito solene e não podemos permitir que, em nossa velhice, existam diferenças que alternem nossos sentimentos. Não reivindico a infalibilidade nem mesmo a perfeição do caráter cristão. Não estou isenta de erros e equívocos em minha vida. Nunca mais lhe escreverei em minhas cartas uma linha ou expressão para o angustiar. Outra vez lhe peço, perdoe-me, cada palavra ou ato que o magoou.” Tiago White morreu em 1881, aos 60 anos. Ellen ficou viúva aos 54 anos e permaneceu, assim, por mais quase 34 anos, até sua morte em 1915.

Ellen esposa e Tiago marido


Outro aspecto da vida de Ellen White que sempre nos ensina preciosas lições diz respeito ao relacionamento dela e de Tiago com os filhos. Eles tiveram quatro meninos – Henry Nichols, James Edson, William Clarence e John Herbert. Experimentaram duas vezes a terrível dor de enterrarem um filho. O pequeno Herbert, caçula, morreu em 1860, com aproximadamente três meses, vítima de erisipela, quando Ellen tinha apenas 33 anos. Três anos depois, Henry faleceu com 16 anos de idade, vítima de pneumonia. Que dura prova!

Em 1862, pouco antes da morte de Henry, Ellen estava com 35 anos de idade e Tiago com 41. Procuravam incessantemente equilibrar as responsabilidades do trabalho para a igreja com o cuidado dos três filhos. Ela escreveu: “Foi-me mostrado com respeito à nossa família, que temos falhado em nosso dever. Temos sido demasiadamente complacentes com eles, temos tolerado que sigam suas próprias inclinações e desejos. Temos ficado tão separados deles que, quando estamos em sua companhia, devemos trabalhar perseverantemente para ligar seu coração a nós a fim de que, quando estivermos ausentes, possamos ter influência sobre eles. Vi que devemos instruí-los com firmeza, e, no entanto, com bondade e paciência”.7

“Para Ellen White, seus filhos eram prioridade máxima. Seus apontamentos em diários, cartas a outros e aos próprios filhos, indicam sua interminável preocupação por eles, especialmente pelo seu crescimento espiritual.”8 Ela viveu quase todas as experiências que alguém pode imaginar. Casou-se com 18 anos, foi mãe aos 19, viveu sob intensa privação e sentiu as dores da morte e da enfermidade dentro da sua própria casa. Ao lidar com as lutas e dificuldades, primeiramente na família paterna, depois em seu próprio lar com o marido e os filhos, deixou-nos um legado precioso que nos motiva a seguir em frente, apesar das contrariedades. Ela encontrou forças e encorajamento na comunhão pessoal com Cristo e na sua viva ligação com os valores eternos.

Grande parte da sua obra e de seus conselhos foi dedicada a destacar a importância da família, do lar e do bom relacionamento com os filhos. Livros como O Lar Adventista e Orientação da Criança têm sido uma fonte inesgotável de ensino para milhares de pais ao longo de décadas. Seus preciosos ensinamentos refletem a experiência de quem não foi perfeita, mas que demonstrou ao longo da vida, por entre alegrias e sofrimentos, uma firme dependência de Deus e um constante desejo de fazer a vontade dAquele que um dia a chamou para ser Sua mensageira.

Hélio Carnassale é teólogo e mestre em Ciëncias da Religião pela Umesp. Atualmente é o líder de Liberdade Religiosa e Espírito de Profecia para os adventistas na América do Sul.