O coral havia justamente terminado de cantar o hino da manhã. Com um suave agitar das becas, os coristas voltaram para seus lugares e se assentaram. Uma pequena agitação ocorreu na congregação, enquanto as pessoas se moviam em seus assentos, procurando a posição mais confortável para se assentar durante o sermão.
A igreja estava lotada naquela manhã, e havia uma forte excitação no ar, pois o orador tinha uma reputação muito polêmica. Ele não era freqüentemente convidado para expressar suas idéias publicamente, e havia o rumor de que uma cerimônia semelhante havia realmente terminado quase em tumulto. O ancião da plataforma estava compreensivelmente um tanto nervoso, ao olhar para o orador convidado e acenar discretamente, indicando que chegara a hora de ele começar.
O orador mal havia alcançado o púlpito e aberto a boca para falar, quando as portas do fundo do santuário se abriram ruidosamente. Contraindo-se e cambaleando pelo corredor central, um endemoninhado lançou-se na presença de Jesus.
Você pode ler sobre isso em S. Lucas 4:33-36.
”Achava-se na sinagoga um homem possesso de espírito de demônio imundo, e bradava em alta voz.”
A descrição é um pouco humorística – “um demônio imundo!” Afinal quantos demônios limpos existem? Mas, pelo menos podemos pressupor que, como os demônios são, esse demônio em particular era muito mau.
O endemoninhado gritou em alta voz, dizendo: “Ah! Que temos nós contigo, Jesus Nazareno? Vieste para destruir-nos? Bem sei quem és: O Santo de Deus!”
Note os pronomes – eles são muito interessantes. “Que temos nós contigo?” “Vieste para destruir-nos?” Evidentemente o demônio começou falando por si mesmo, bem como pelo homem que possuía. Mas ele então terminou com: “Bem sei quem és. ” Talvez o homem não
entendesse em presença de quem ele havia sido tão violentamente colocado. Mas o demônio certamente reconhecia com quem ele estava confrontando.
Esse deve ter sido um demônio muito nervoso. Talvez ele tenha se sentido especialmente ousado naquele dia quando decidiu interromper o serviço da igreja onde Jesus – Aquele que o havia criado – estava oficiando. Mas, nervoso ou não, ele também não deve ter sido particularmente esperto. Ele deveria saber melhor, pois terminou em derrota – como os demônios sempre terminam na presença de Jesus.
Pois, “Jesus o repreendeu, dizendo: Cala-te, e sai desse homem. O demônio, depois de o ter lançado por terra no meio de todos, saiu dele sem lhe fazer mal. Todos ficaram grandemente admirados e comentavam entre si, dizendo: Que palavra é esta, pois, com autoridade e poder ordena aos espíritos imundos, e eles saem?”
Na Bíblia há sete situações relatadas do confronto de Jesus com os demônios. Antes que continuemos, considerando a segunda ocasião, por favor note três coisas:
1. O contato e conversação de Jesus com o demônio foi breve.
2. O demônio foi forçado a deixar imediatamente sua vítima.
3. Pelo menos nesse caso particular, nenhum intercessor estava presente. Ninguém esteve envolvido em trazer o homem afligido a Jesus, ou em buscar o auxílio de Jesus em seu favor. Ele veio sozinho. Na verdade ele não era nem mesmo capaz de pedir auxílio para si mesmo, pois, quando ele tentou falar, o demônio falou através dele. Mesmo assim, Jesus ainda estava apto a livrá-lo e salvá-lo.
O segundo relato, em S. Mateus 9:32 a 34, é muito curto. “Ao retirarem-se eles, foi-Lhe trazido um mudo endemoninhado. E, expelido o demônio, falou o mudo; e as multidões se admiravam, dizendo: Jamais se viu tal coisa em Israel!”
Nesse caso houve intercessão, pois diz: “Eles Lhe trouxeram um homem mudo endemoninhado.” Outra vez, entretanto, o encontro foi breve. E a evidência é que os demônios foram forçados a sair imediatamente à palavra de Jesus. As pessoas que trouxeram esse homem a Jesus, não podiam fazer nada para ajudá-lo. Mas eles sabiam o suficiente para trazê-lo a Jesus, e esta é a coisa certa a ser feita. Você não acha? Qualquer um hoje, que conheça alguém que está atormentado ou oprimido ou com um problema, pode seguir o exemplo dessas pessoas em trazer tal pessoa a Jesus. Ele é o Único que tem o poder de trazer cura e restauração.
O terceiro relato se encontra em S. Mateus 12. “Então Lhe trouxeram um endemoninhado, cego e mudo; e Ele o curou, passando o mudo a falar e a ver.” Verso 22.
O relatório continua com um diálogo entre Jesus e os fariseus. Mas esse encontro de Jesus com os demônios, outra vez foi breve e outra vez terminou na total derrota deles. Os líderes religiosos acusaram Jesus de expulsar demônios pelo poder do demônio. Entretanto, Jesus deu-lhes alguns argumentos de difícil resposta e contou-lhes uma parábola sobre uma casa vazia, onde muitos demônios voltaram para tomar o lugar de um. Voltaremos a esse ponto, mas por agora continuemos com o quarto relato.
Este é um dos encontros mais conhecidos – os endemoninhados que foram libertos e os demônios que levaram os porcos pelo despenhadeiro ao mar. Ele está relatado em S. Mateus 8 e S. Lucas 8. Neste caso Jesus envolveu-Se em um breve diálogo com os demônios. De acordo com S. Lucas 8, Ele perguntou: “Qual é o teu nome?”
E eles responderam: “Nosso nome é Legião.” Verso 30.
Nos dias de Cristo, o exército romano, era dividido em legiões. Cada legião era composta de 3 a 5 mil homens. Aparentemente o demônio tinha uma equipe de demônios suficiente para que ele pudesse gastar 3 a 5 mil deles em um ou dois homens!
Um enfoque popular do assunto de exorcismo diz que você tem que falar individualmente com cada demônio e expulsá-los um por um. Se Jesus tivesse usado tal método nessa experiência, provavelmente Ele ainda estivesse lá! Assim, embora haja evidências bíblicas sobre
múltiplas possessões, não há evidência de que cada demônio deva ser tratado individualmente. Quando Jesus ordenou, todos eles saíram. Um negócio por atacado, se você permite. Os demônios foram para a manada. E a manada correu para o mar, e o povo veio e suplicou a Jesus que saísse dos limites da sua cidade, antes que eles perdessem mais de seus recursos.
Nesse caso, não houve intercessor. Outra vez, os demônios exibiram falta de juízo ou talvez uma falta de autocontrole, por virem à presença de Jesus voluntariamente. Mas eles eram suficientemente perceptivos para dizerem, como relatado em S. Mateus 8:31: ”Se nos expeles, manda-nos para a manada de porcos.” Eles certamente sabiam qual seria o resultado do encontro!
O quinto relato encontra-se em S. Mateus 15:21-28. Esta é a história da mulher fenícia cuja fé era muito grande. Ela persistiu, permanecendo na presença de Jesus por algumas das migalhas da mesa do Mestre. O problema era que sua filha estava gravemente dominada por um demônio. Ao concluir a conversação, Jesus disse: “Ó mulher, grande é a tua fé! Faça-se contigo como queres.” Mateus conclui seu relato desse milagre dizendo: “E desde aquele momento sua filha ficou sã.”
Havia um intercessor nesse relato, mas a filha que estava possessa não estava nem mesmo presente. Ela recebeu livramento em ausência, poderíamos dizer. Mas, embora ela não estivesse em Sua presença, imediatamente ela foi curada por Sua palavra.
O sexto relato se encontra em S. Marcos 9:14-29. Este é um relato longo. Jesus desceu do Monte da Transfiguração. Ele havia levado três de Seus discípulos em uma viagem especial. Os outros nove estavam com inveja e discutindo entre si quem seria o maior. Nessas condições, eles tentaram tirar os demônios mas, em vez disso, os demônios os tiraram. Embora Jesus nunca perdesse um caso, Seus discípulos perdiam.
Quando Jesus chegou ao local, o pai do menino explicou-Lhe a situação e disse: “… Mas, se Tu podes alguma coisa. …
” Jesus respondeu: “Se podes! Tudo é possível ao que crê.”
Então o homem respondeu: “Eu creio, mas, evidentemente, não creio o suficiente. Por favor, ajuda-me na minha falta de fé.”
Jesus levantou o menino e houve uma grande libertação naquele dia. Depois que a multidão foi embora, os discípulos perguntaram a Jesus por que eles não tinham sido aptos a expulsar os demônios, Jesus então disse: “Esta casta não pode sair senão por meio de oração [e jejum].” Mar. 9:29; Mat. 17:21.
Mas Jesus, que expulsou o demônio, não tinha estado jejuando, tanto quanto nós sabemos. E fácil tomarmos uma interpretação natural disso e pensar que Deus, de alguma maneira, é impressionado se nos privamos do alimento. Mas isso não combina com o que Jesus disse sobre Deus, que está desejoso de dar boas dádivas aos Seus filhos. Os dons de Deus não são ganhos – eles são dados livremente. Assim, o que Jesus queria dizer?
Jesus estava falando do contínuo relacionamento com o Pai. Ele não tentou apresentar a Si mesmo como superior em algum tipo de grandeza espiritual apenas para essa ocasião. Ao contrário, ele gastava tempo cada dia em comunhão e companheirismo com o Pai. Isso era mais importante para Ele do que comer. Era através desse relacionamento que Ele Se mantinha sob o controle do Pai e estava pronto para cada observação momentânea ou qualquer tipo de astúcia do diabo que Ele tivesse que enfrentar.
Por outro lado, Seus discípulos não haviam gasto a noite ou início da manhã em companheirismo com o Céu como Ele tinha feito. Eles haviam adormecido, enquanto discutiam entre si quem seria o maior.
Por sua própria escolha, eles haviam se separado do poder do Céu e foram assim deixados a encontrar o inimigo em sua própria fragilidade.
Se a qualquer momento tentássemos enfrentar o poder da escuridão por nós mesmos, seguramente seríamos vencidos. A menos que tenhamos o poder de Jesus, seria pura tolice até mesmo tentarmos um confronto com o diabo. Ele é mais forte do que nós, e sempre levará vantagem. Somente o poder de Jesus é suficientemente forte para vencer o inimigo, e esse poder está disponível para cada um de nós, através de um relacionamento diário com Ele.
Nós não apenas somos incapazes de lidar com a possessão do diabo na sua mais extrema forma, mas somos também incapazes de lidar com as tentações e astúcia do diabo em nossa própria vida. Não podemos vencer o pecado em nossa própria força, mas somente através da força do Céu, ao irmos a Jesus e permitirmos que Ele lute por nós.
Finalmente o sétimo relato – encontra-se em S. Marcos 16:9. Aqui, não temos uma história como nos outros casos. Temos apenas uma referência a alguma coisa que já havia acontecido.
“Havendo Ele ressuscitado de manhã cedo no primeiro dia da semana, apareceu primeiro a Maria Madalena, da qual expelira sete demônios.”
Provavelmente poderíamos especular sobre isso, sobre se Jesus expulsou os sete demônios todos de uma vez, ou expulsou os demônios de Maria em sete vezes diferentes. Estou escolhendo a última possibilidade por causa da parábola que Jesus contou em S. Mateus 12. Voltemos aos versos 43 e 45.
”Quando o espírito imundo sai do homem, anda por lugares áridos procurando repouso, porém não encontra. Por isso diz: Voltarei para minha casa donde saí. E, tendo voltado, a encontra vazia, varrida e ornamentada. Então vai, e leva consigo outros sete espíritos, piores do que ele, e, entrando, habitam ali; e o último estado daquele homem torna-se pior do que o primeiro. Assim também acontecerá a esta geração perversa.”
O que Jesus está dizendo? Que há alguma coisa mais importante do que expulsar o diabo para fora de você. Também é necessário mantê-lo fora. Não é verdade? E Maria teve que aprender isso – evidentemente de um modo difícil.
Uma pessoa pode conhecer um poderoso livramento do pecado – mesmo da possessão do diabo – mas a menos que conheça uma conexão vital com Deus e um contínuo companheirismo com Ele dia a dia, através do estudo da Bíblia e da oração, isso não será suficiente.
O pecado nunca é mantido expulso por nós. Ele só é conservado fora, quando Jesus entra.
Podemos tirar várias conclusões desses relatos:
Primeiro, quando Jesus expulsa os demônios, Ele os expulsa imediatamente.
Segundo, Ele lança todos os demônios para fora de uma vez, não um por vez.
Terceiro, às vezes há um intercessor, às vezes não. Evidentemente não é essencial ter um intercessor.
Quarto, expulsar demônios não é grande coisa! Em S. Lucas 10, quando os setenta voltaram e disseram: “Senhor, os próprios demônios se nos submetem pelo Teu nome!”, Jesus disse, essencialmente: “É? Satanás foi lançado do Céu muito tempo atrás, ele é um inimigo derrotado.” Veja versos 17 a 20.
Como Jesus tratou os endemoninhados? É uma boa nova. Era uma boa nova na Palestina; é uma boa nova hoje. Jesus nunca perdeu um caso. Os demônios gritaram por misericórdia em Sua presença. Portanto, eles não são nada para nos assustar, pois o poderoso nome de Jesus ainda é o maior poder na Terra. Através de Seu poder, podemos ser libertados do poder do inimigo.