Da Tristeza ao Canto

| SEMANA DE MORDOMIA CRISTÃ 2021


“Era por este menino que eu orava, e o Senhor Deus me
concedeu o pedido que eu fiz” (1 Samuel 1:27).1
Todos nós temos uma imagem de como uma família de crentes, a igreja local ou mesmo a igreja como um todo deve ser.
Queremos que os membros da igreja estejam ansiosos para estudar a Palavra de Deus, como os de Beréia (At 17:11), com uma vida de oração ativa e envolvimento na missão. É claro que uma igreja viva e espiritualmente poderosa é composta de famílias consagradas, famílias que estudam a Palavra de Deus e têm o hábito diário de orar e louvar a Ele.
Convido você a ir em sua mente ao tempo dos juízes. Foi um dos períodos mais atribulados da história do povo de Israel. A deterioração moral e espiritual é clara; este período pode ser chamado de Idade das Trevas do Antigo Testamento.
Os dois primeiros capítulos do livro de 1 Samuel apresentam a vida real, sem retoques, de uma família daquela época. Elcana reunia todos os membros de sua família todos os anos e ia a Siló, o centro espiritual e religioso de Israel, “para adorar e sacrificar ao Senhor” (1Sm 1:3). Ver toda a família indo para o local de culto público era algo a ser apreciado naquela época, como é hoje.
Em vez disso, a realidade além da aparência era diferente. De acordo com os costumes daquela época, se uma família não tivesse filhos, alguns tomariam uma segunda esposa. Todos esses exemplos na Bíblia falam das consequências negativas desse passo errado, e o caso de Elcana não é exceção.
1 Todos os textos da Bíblia são retirados da Nova Almeida Atualizada®. Todos os direitos reservados.

Uma Família e uma Nação em Crise


O narrador apresenta as relações tensas dentro desta família. Exatamente quando eles mais precisavam de uma atitude alegre para que sua adoração se tornasse uma experiência realmente sincera, tudo se transformou em amargura, conflito e decepção. Elcana tinha duas esposas — Penina e Ana — e havia muita tensão entre as duas. Mesmo no local de adoração, Penina continuou a denegrir Ana com palavras que feriam sua alma,
porque Ana não tinha filhos (1Sm 1:6). A única coisa que Ana poderia fazer era se retirar da celebração em lágrimas. Uma família em crise espiritual e relacional realmente mostrou o que estava acontecendo naquela época em uma escala diferente, no nível de toda a nação.
Peregrinos de todo o país vinham a Siló por um motivo: para adorar. Aqueles ali que deveriam ter conduzido todas as pessoas no ato sagrado de adoração “não se importavam com o Senhor”
(1Sm 2:12). Este é o principal motivo da crise moral e espiritual pela qual o povo de Israel estava passando. O compromisso levou ao conflito e ao caos. Inimigos de fora atacaram a nação (1Sm 4-7), e a corrupção prevaleceu do lado de dentro. Os filhos de Eli, o sumo sacerdote, eram culpados de um grande pecado porque “desprezavam a oferta do Senhor” (1Sm 2:17).
Com essa triste história, vemos que a estratégia do diabo é arruinar os filhos de Deus. Quando a adoração está ausente ou se torna um fracasso no âmbito pessoal, familiar ou da igreja, a vitória do diabo está garantida. Por isso, “Naqueles dias, a palavra do Senhor era muito rara; as visões não eram frequentes”
(1Sm 3:1). Assim como Ana, que não podia ter filhos, Israel se tornou um povo infrutífero, uma terra estéril e infrutífera.


Deus Ainda Trabalha
A prova mais forte de que Deus não desiste de nós é o livro de Juízes, os livros de Samuel, toda a Bíblia e especialmente a cruz no Gólgota. Deus está trabalhando, mas Ele escolhe pessoas para realizar Seus planos.
Ele escolheu Ana, uma mulher comum, que não era uma profetisa, como Débora ou Hulda, mas que tinha uma sensibilidade espiritual e temor a Deus. Seu nome aparece nas páginas das Sagradas Escrituras junto com os grandes homens de fé pela simples razão de que ela orou. Como resultado de sua oração, a história do povo de Israel mudou e tomou uma nova direção. Se ela não tivesse orado, estaríamos falando hoje sobre Samuel, o
profeta e juiz, cuja liderança resultou em uma verdadeira reforma moral e espiritual? Foi ele que garantiu a transição do período dos juízes para a monarquia. Ele chorou por Saul, mas teve o privilégio de ungir Davi, um homem “segundo o Seu coração” (1Sm 13:14), como rei.
Ana ansiava por ser mãe, e a falta de filhos era uma vergonha em sua cultura, um sinal de desaprovação divina. Aos poucos, porém, esse sonho morreu e se tornou objeto de zombaria de Penina. Desta vez, porém, quando Penina zombou dela, Ana fez algo completamente incomum. Ela se levantou da mesa, não para lamentar na solidão, mas para carregar o fardo de sua alma diante de Deus em oração. A expressão repetida muitas vezes
com relação a esse evento é: “perante o SENHOR” (1Sm 1:12).
“Perante o Senhor” ela ora e chora; ela faz uma promessa; aqui,
ela fica por muito tempo, e talvez tivesse ficado mais tempo se não tivesse sido interrompida por Eli, o sumo sacerdote.
Essa expressão é consagrada no Antigo Testamento; a adoração tinha que acontecer perante o Senhor. Deus, e não o homem, deve estar no centro da adoração. Que necessidade temos hoje de tal adoração, na qual cantar, orar, pregar ou qualquer outro elemento de adoração é feito para o Senhor e não para outras pessoas.

Ana pediu a Deus um filho, e o motivo pelo qual ela pediu isso foi claramente expresso. Não era para que a zombaria cessasse ou para que a vergonha da infertilidade fosse retirada, mas para dar a Deus um presente, o presente mais precioso: um filho. Ana sabe que um relacionamento verdadeiro com Deus, como qualquer relacionamento, não se desenvolve apenas pedindo, mas também dando. É por isso que sua oração é única na
Bíblia e se torna um voto (1Sm 1:11). O presente de Ana, assim
como o presente de Maria (Jo 12:1-8), é tão precioso porque é um
presente de sacrifício. Ela promete e cumpre de todo o coração.


Uma Promessa Antes de Receber
Permanecendo “perante o Senhor”, Ana faz uma promessa a Deus de que ela devolverá o filho antes mesmo de tê-lo. Um voto é uma iniciativa do adorador; é um ato de adoração. Durante o período do Antigo Testamento, a maioria dos elementos do culto público eram condicionados pela presença de sacerdotes. Não se podia oferecer um sacrifício sem a intercessão dos
sacerdotes.
Mas a promessa, ou voto, era e continua a ser algo feito em relação direta com Deus, sem a intercessão de qualquer pessoa.
A adoração verdadeira custa. Custa tempo, preparação, ofertas e dízimo. Davi disse: “ não oferecerei ao Senhor, meu Deus holocaustos que não me custem nada” (2Sm 24:24). Mas, acima de tudo, a adoração não nos custa, custa a Deus, ao dar Seu Filho.
Aquele que primeiro prometeu uma oferta não somos nós, mas o próprio Deus (Gn 3:15). Adoração sem oferta não é adoração!
A promessa de Ana é a promessa de fé e amor. Ellen White nos diz que, naquela época, “raramente se via uma oração assim. A reação de Eli é óbvia a esse respeito” (1Sm 1:14). Eu acredito que, em nome dela, Deus poderia dizer as palavras: “Ó mulher, grande é a tua fé!” (Mt 15:28).

Ana prometeu que a criança seria “consagrada ao Senhor”
(1Sm 1:11). Em palavras especiais, Ellen White expressa a fé, o amor e a consistência de Ana: “Depois de separada de seu filho, a solicitude da fiel mãe não cessou. Cada dia ele era objeto de suas orações. Cada ano ela lhe fazia, com suas próprias mãos, uma túnica para o serviço; e, subindo com o esposo para adorar em Siló, dava ao menino esta lembrança de seu amor.”2
Ana não só faz promessas a Deus, mas também mantém sua palavra!
(1Sm 1:26, 27).


Esperança para Tempos Difíceis
Existem muitas verdades preciosas que podemos aprender
com o exemplo de Ana. Podemos ver como Deus pode usar as
experiências negativas em nossas vidas para criar algo maravilhoso. Ele pode usar as provações mais dolorosas para nos ensinar o que significa confiar Nele.
Ana aprendeu a confiar em Deus em todas as coisas que estavam além de seu controle. Agora, enquanto escrevo esses pensamentos (2 de abril de 2020), quase todo o mundo está em quarentena, preocupado com o que pode vir a seguir. O medo da contaminação e do que acontecerá amanhã cobriu toda a humanidade. Para Ana, o sofrimento e a provação que ela estava passando eram um chamado para orar e confiar em Deus. Ela
orou e, quando deixou o local de oração, “seu semblante já não era triste” (1Sm 1:18). Em seu rosto não havia mais lágrimas, mas um sorriso de alegria. Por meio da confiança e esperança diante do Senhor em Siló, Ana encontrou paz antes mesmo de receber uma resposta à sua oração. Imagine a casa de Elcana no dia em que Ana viu a intervenção divina e a resposta à sua oração em sua vida — quando Samuel nasceu!
Quando chegamos “perante o Senhor” por meio da oração, reconhecemos Sua soberania; nada está fora de Seu controle.
2 Patriarcas e Profetas, p. 572.

Há esperança para tempos de crise na família, na igreja e em todo o mundo. Temos um Deus que cuida e quer trabalhar por aqueles que confiam nele. A canção de Ana (1Sm 2:1-11) fala sobre isso. Quando você vê a intervenção de Deus, não consegue parar de cantar!

Perguntas:

  1. Se uma única oração pudesse mudar a história de uma
    nação por meio da intervenção de Deus, o que poderia
    acontecer hoje se orarmos?
  2. Estando “perante o Senhor”, quais são as coisas que prometemos, pessoalmente, na família ou como igreja?
  3. Existem maneiras pelas quais também podemos expressar nossa esperança e confiança em Deus hoje?
  4. Por que você acha que Ana foi capaz de cumprir seu voto
    e trazer sua preciosa oferta quando percebeu a condição
    espiritual corrupta dos líderes religiosos naquela época?