REFLEXÃO
Autores: Henilson Erthal de Albuquerque e Giselly Zahn Erthal
Texto Bíblico: Salmo 90:12
Agora é o momento de refletirmos como tem sido a nossa vida e aprender
a partir de nossas experiências. Não esquecer de agradecer a Deus por ter sido sempre fiel em todo o momento. Depois de tudo, agora é um novo momento.
O texto que vamos meditar nesta manhã encontra-se no livro de Salmos
90:12.
“Ensina-nos a contar os nossos dias para que o nosso coração alcance
sabedoria.”(v.12)
Vivemos dias sem precedentes. Alguns de nós talvez tenham testemunhado a Segunda Guerra Mundial, outros tantos a grande tragédia que envolveu o dia 11 de setembro de 2011. Guerras, ataques – temos visto muitas
vezes situações similares, no entanto, uma pandemia ninguém de nossa
geração testemunhou antes daquela que nos sobreveio em 2020.
Expressões até então pouco utilizadas como distanciamento social,
isolamento social, protocolos de biossegurança, novo coronavírus, COVID-19, álcool 70%, passaram a fazer parte do dia a dia de nós mulheres e toda a
sociedade mundial em geral.
2020 foi um ano de perdas. Dificilmente alguém de nós não perdeu
alguém próximo ou muito próximo – um colega, amigo ou familiar. Aquilo que parecia apenas mais um entre tantos vírus surgidos em algum ponto do globo, tornou-se nessa consternação mundial e que atingiu cada lar, cada família.
Uma pesquisa realizada em maio de 2020 no Brasil demonstrou alguns
hábitos adquiridos na pandemia que serão perpetuados no pós-pandemia:
a) 59,5%: higienizar as coisas que entram em casa;
b) 49,6%: cozinhar em casa;
c) 43%: fazer cursos on-line;
d) 40,6% ir ao mercado ou à farmácia somente quando for
extremamente necessário.
Cleyton Melo, jornalista e analista de tendências, afirmou que a pandemia
se tornou um acelerador de futuros. “A pandemia antecipa mudanças que já
estavam em curso, como o trabalho remoto, a educação a distância, a busca por sustentabilidade e a cobrança, por parte da sociedade, para que as empresas sejam mais responsáveis do ponto de vista social”, segundo ele.
Átila Imariano, doutor em microbiologia pela Universidade de São Paulo e
pós-doutor pela Universidade de Yale afirmou: “Mudanças que o mundo levaria décadas para passar, que a gente levaria muito tempo para implementar voluntariamente, a gente está tendo que implementar no susto, em questão de meses”.
Nós, mulheres, dotadas de uma percepção privilegiada das realidades,
descobrimos que vivemos em um mundo frágil em vários aspectos: sistema
político, sistema financeiro, sistema de saúde, sistema familiar. Percebemos com clareza que não somos capazes de deter o controle sobre a vida e os processos a ela inerentes. Fomos vencidos pelo invisível.
Nunca antes, em nossa geração, tivemos uma compreensão tão evidente
de nossa finitude. Se imaginávamos, por alguma razão, que éramos feitos de aço, a COVID-19 nos alertou para o contrário. Hoje estamos aqui, amanhã não estamos. O ano de 2021 surgiu como uma grande esperança. Imaginávamos, em nossos sonhos, 1o de janeiro com as máscaras saindo de frente de nossos rostos. Nossos sorrisos iriam novamente enfeitar o mundo ao redor. Mas não.
Uma nova onda da pandemia está assolando o planeta, com um índice de
mortandade extremamente preocupante.
Sim, ansiávamos por um novo tempo em 2021 que não chegou. Vivemos
tão somente a extensão de 2020. A vacinação não avança na velocidade que
gostaríamos e nos perguntamos: Por mais quanto tempo o mundo estará assim?
- O QUE É O TEMPO?
Esta pergunta nos leva à palavra-chave de nossa mensagem para esta
ocasião especial, o Dia da Mulher: Tempo. Afinal, o que é o tempo? Agostinho de Hipona disse certa vez, sobre isso: “Se você não perguntar, eu sei o que é; se quiser que eu explique, eu já não sei mais.”
Realmente há palavras em Língua Portuguesa de difícil definição. Tente definir saudade, amor, resiliência, empatia; tente explicar o que é o tempo.
Recorremos, assim, ao texto bíblico, para buscar o significado do tempo.
No grego do Novo Testamento, encontramos duas palavras interessantes que irão nos ajudar:
a) CHRONOS: Tempo quantitativo (passageiro, sequencial, cronológico). Daí vem a expressão cronômetro. Os calendários dizem respeito ao tempo quantitativo, que passa celeremente.
b) KAIRÓS: Tempo qualitativo (sentido de momento, conteúdo do tempo). Aqui não é um tempo que contamos, mas o registro de experiências vividas, de onde tiramos nossas histórias.
Jesus utilizou estas duas palavras em Atos 1:7: “Não compete a vocês onhecer os tempos (chronos) ou as épocas (kairós) os quais o Pai fixou por sua própria autoridade”.
Vemos aqui que Deus organiza e controla o chronos e estabelece kairós de acordo com a sua vontade. Por isso Agostinho e nós também temos tanta dificuldade de definir e significar tempo. Este é um assunto para Deus, que tem pensamentos muito superiores aos nossos pensamentos, conforme disse Isaías (55:8-10).
- O TEMPO QUE TEMOS
O apóstolo Paulo, dirigindo-se à igreja de Éfeso, escreveu: “Portanto,
vede prudentemente como andais, não como insensatos, mas como
sábios, remindo o tempo (kairós), porque os dias são maus” (Efésios 5:15-16).
A expressão “remindo o tempo” denota exatamente a ideia de aproveitar bem cada oportunidade, ou seja, não desperdiçar ou deixar passar o momento certo, o tempo oportuno de agir – o presente.
O Dalai Lama, certa feita afirmou: “Só existem dois dias no ano que nada pode ser feito. Um se chama ontem e o outro se chama amanhã. Portanto, hoje é o dia certo para amar, acreditar, fazer e principalmente viver.”
Temos muita dificuldade de nos concentramos no presente, a única fração de tempo sobre a qual temos controle. Tendemos a viver nos extremos:
a) Alguns, por excesso de foco no passado, experimentam a
depressão;
b) Outros, por excesso de foco no futuro, experimentam
ansiedade.
A realidade é que o amanhã é como uma miragem no deserto, que parece
estar se aproximando e, contudo, está sempre mais adiante. Sempre que damos um passo a mais tentando alcançar o futuro, o tempo dá um passo de grandeza proporcional também e nunca o alcançamos
Como é desafiador no concentrarmos no que realmente importa, quando
o assunto é tempo: o presente. E nunca o tempo foi tão precioso como hoje.
Um pastor de nossa igreja tem se reunido mensalmente para conversar
com seus filhos sobre a finitude da vida os tem preparado para uma realidade, dura, mas, ao mesmo tempo, muito real. A fala dele é: “Queridos, temos que estar preparados para a eventualidade de seu pai ou sua mãe não estarem presentes na reunião do próximo mês”. Realmente, o descuido do tempo é rochedo sobre o qual se tem despedaçado uma grande parte da raça humana.
Ellen White, escreveu: Somos advertidos a remir o tempo. O tempo
esbanjado nunca poderá ser recuperado, porém. Não podemos fazer voltar atrás nem sequer um momento. A única maneira de podermos remir nosso tempo consiste em utilizar o melhor possível o que nos resta, tornando-nos coobreiros de Deus em Seu grande plano de redenção. … {FQV 155.2}
Em outro texto ela afirma que o nosso tempo pertence a Deus. Cada
momento é Seu, e estamos sob amais solene obrigação de aproveitá-lo para
Sua glória. De nenhum talento que nos concedeu requererá Ele mais estrita
conta do que de nosso tempo. {FQV 154.5}
- O SÁBIO USO DO TEMPO
O grande filósofo Sêneca afirmou: “Apressa-te a viver bem e pensa que
cada dia é, por si só, uma vida”. Esta expressão é de absurdo impacto. Se realmente entendêssemos que cada dia representa uma vida em miniatura, certamente daríamos muito mais valor e aproveitaríamos de maneira muito mais significativa cada período de vinte e quatro horas que vivemos.
Para entender o valor de um ano, pergunte a um estudante que ficou reprovado por “roubar” o tempo que deveria ter usado estudando, sendo
obrigado a repetir o ano letivo. Para entender o valor de um mês, pergunte a uma mãe que perdeu um filho prematuramente numa gravidez. Para entender o valor de uma hora, pergunte a alguém que teve uma parada cardíaca e necessitava chegar urgentemente a um hospital e ficou preso num congestionamento no trânsito de uma grande cidade.
Para entender o valor de um minuto, pergunte a alguém que perdeu um
voo, porque chegou só um pouquinho atrasado. Para entender o valor de um segundo, pergunte a um atleta de alta performance que perdeu os 100 metros rasos de uma Olimpíada por apenas uma fração de tempo.
O filme de ficção científica “O Preço do Amanhã” apresenta a moeda
corrente como o tempo. As pessoas compram usando tempo, vendem usando tempo, trabalham para receber mais tempo. A morte acontece quando o saldo, impresso no braço dos personagens, zera.
Embora seja apenas ficção, esta obra cinematográfica pode nos levar a
uma séria reflexão:
Nosso tempo gasto nunca mais é recuperado. O que temos feito com ele? Agora, imagine se tivéssemos um banco de tempo. Quanto tempo você gostaria de sacar ou reaver para resolver os problemas de sua vida?
A que data você precisaria voltar para que uma decisão errada fosse desfeita e sua vida não estivesse na situação em que se encontra hoje?
A vida é muito solene para ser absorvida em negócios terrenos e temporais, em um remoinho de cuidados e ansiedades pelas coisas terrenas que são apenas um átomo em comparação com as de interesse eterno. (PJ, 183)
- COMO ESTAMOS CONTANDO NOSSOS DIAS?
O salmo 90 nos deixa um registro preciosíssimo: “Ensina-nos a contar os
nossos dias para que o nosso coração alcance sabedoria.” (v. 12)
Conta-se que César Augusto, imperador romano, vivendo os seus últimos
momentos políticos, sem saber que iria ser assassinado, recebeu em seu palácio um de seus amigos políticos que lhe entregou, às pressas, um bilhete e lhe disse:
“Leia agora mesmo, é coisa urgente”. Zombando da pressa do amigo, César
disse: “Coisa urgente eu sempre deixo para amanhã”. Colocou o bilhete no bolso e não leu. Naquele mesmo dia ele foi assassinado.
Em seu bolso foi encontrado um bilhete que dizia: “Tente fugir, pois estão
tramando lhe matar”. Se ele tivesse lido o bilhete, talvez tivesse escapado da
morte naquele dia.
Queridas mulheres, como temos contado nossos dias? Tire um tempo
hoje em seu lar e calcule quantos dias você já viveu e pergunte-se: O que fiz
com os meus dias até aqui? Isso, naturalmente, serve apenas como diagnóstico.
Não podemos mudar o que fizemos no passado. No entanto, certamente servirá de ponto de partida para o planejamento sobre como contaremos os dias que ainda virão.
E para encontramos um bom parâmetro, busquemos a forma como Jesus
contou os Seus dias:
“Ele nasceu numa vila obscura, filho de uma camponesa. Cresceu em outra vila, onde trabalhou numa carpintaria até os 30 anos.
Então por três anos foi um pregador itinerante. Nunca escreveu um livro. […] Nunca teve uma família ou possuiu uma casa. Ele não cursou uma faculdade. […] Nunca viajou mais de 350 quilômetros além do lugar onde nasceu. Não fez qualquer uma daquelas coisas que normalmente associamos com grandeza.
Tinha apenas 33 anos quando a maré da opinião pública se ergueu contra Ele. Seus amigos O abandonaram. Foi entregue aos inimigos e suportou o escárnio de um julgamento injusto. Foi pregado numa cruz entre dois ladrões. Enquanto morria, Seus executores disputavam Seu manto, Sua única propriedade. Depois de morto, foi colocado em um túmulo emprestado pela piedade de um amigo.
Dezenove séculos vieram e se foram. Hoje Ele permanece como o personagem central da humanidade, o líder de todo avanço humano. Todos os exércitos que já marcharam, todos os navios que já navegaram, todos os parlamentos que já se reuniram, todos os reis que já reinaram, colocados juntos, não tiveram sobre a vida dos homens neste planeta o impacto que teve essa única vida solitária.” (James Allan Francis)
Diante desta biografia tão impactante, pensamos:
a) Certamente a maioria de nós viajou mais longas extensões do
que Jesus;
b) Certamente a maioria de nós estudou mais do que Jesus;
c) Certamente a maioria de nós teve mais condições financeiras
do que Jesus ao longo da vida;
d) Certamente tivemos menos oposição do que Jesus;
e) Muitos de nós já vivemos mais do que Jesus viveu neste
mundo.
A pergunta de 1 milhão de dólares é: Por que não temos diagnosticado
que tivemos maior influência do que a de Jesus ao contarmos nossos dias?
CONCLUSÃO
O segredo do maior personagem da história serve para nós: o tempo só
tem valor quando é gasto no interesse da eternidade.
Inclua na contagem dos seus dias que virão comunhão com Deus, culto
familiar, construção de um álbum de memórias, família, amigos, trabalho,
missão, cuidado com a saúde, capacitação pessoal, bater papo, ler,
desconectar, interceder, dizer “eu te amo”, cuidar do outro. A lista pode continuar.
Philip James Elliot ou simplesmente Jim Elliot, nasceu em 8 de outubro de
1927 e morreu em 8 de janeiro de 1956. Era um cristão protestante, um dos cinco missionários que morreram enquanto participavam da Operação Alca, uma tentativa de evangelizar os huaorani, um povo do Equador.
Jim Elliot tem uma frase célebre que diz: “Viva de tal forma que, ao chegar
o dia da sua morte, nada mais tenha a fazer a não ser morrer”. Seu testemunho é tão forte que este registro deixado por ele não carece de explicações (ler a frase novamente).
Isso nos lembra da fala de Paulo, quando escrevia para Timóteo às
vésperas de sua morte:
“Quanto a mim, estou sendo já oferecido por libação, e o tempo da
minha partida é chegado. Combati o bom combate, completei a
carreira, guardei a fé. Já agora a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, reto juiz, me dará naquele Dia; e não somente a mim, mas também a todos quantos amam a sua vinda.”
(2Tm 4:6-8).
A síntese do recado de Deus para nós neste dia especial, em que celebramos o Dia da Mulher é: “Aproveite o tempo presente. Aprenda a contar os dias. Deixe um legado. Ao morrer, esteja convicto de que não deixou nada
para trás”.
Que Ele nos ajude a manter o foco hoje com os olhos fitos na eternidade.
Henilson Erthal de Albuquerque é pastor e educador. É líder de Educação,
Ministério da Família e das Possibilidades, Assuntos Públicos e Liberdade
Religiosa da União Norte Brasileira.
Giselly Zahn Erthal é educadora, tendo atuado por mais de 20 anos na Rede
Adventista. Hoje é psicóloga clínica.