Todos, constantemente, tomam decisões que podem envolver recursos ou pessoas, obviamente interferindo no resultado futuro. Falando dessa forma, parece
que o tema de hoje será sobre algo restrito ao ambiente técnico e profissional, mas engana-se quem não se atenta para essa responsabilidade de todo indivíduo.
A vida precisa ser administrada, e vários são os recursos ligados a ela.
É provável que você já tenha escutado sobre esse
assunto, geralmente organizado em quatro grandes colunas: corpo, tempo, recursos e talentos.
Esse conjunto sintetiza uma série de elementos que
merecem nossa atenção e cuidado, de forma que nossa vida seja bem organizada, com o devido equilíbrio e saúde. Claro que podemos fazer uma lista bem maior,
pensando em tudo que está ligado à agenda do coração, mas neste momento vamos focar no recurso tempo. Para muitos, a administração desse elemento pode
ser uma das mais difíceis tarefas.
Como já percebemos, a pandemia da COVID-19 foi
uma aceleradora de mudanças. A vida, que já estava em crescente conexão através das mídias sociais, viu
uma inclinação ainda mais vertiginosa. Os dispositivos digitais em uso no Brasil passam dos 400 milhões, isso falando apenas em celular, cuja média passa de um por
pessoa. Os smartphones ocupam uma parte tão significativa da vida que a média de uso diário é de 4,8 horas (APP ANNIE, 2020). Não sei se esse é seu caso, mas parece que para alguns não existe vida se o aparelhinho for esquecido em casa. O objetivo aqui não é demonizar o celular, mas nos fazer pensar sobre o uso do tempo e que isso pode estar retirando algo mais importante
de nossa agenda. O texto de hoje fala sobre ocupar e esquecer.
Não há controle humano do tempo.
Quando criança, as datas comemorativas parecem
demorar mais do que se gostaria. Momentos como aniversário, Dia das Crianças e Natal, na perspectiva de dos que têm menos de 12 anos, parecem nunca chegar. O interessante é que o inverso começa a acontecer com o decorrer do tempo. Já notou que em nossa fase adulta o sentimento é curiosamente bem diferente? A impressão é que cada ano passa mais rápido do que o anterior.
Muitos de nós relatamos que não percebemos o mês passar ou mesmo afirmamos que o dia precisava
ter mais do que 24 horas. O que mudou? As pessoas ou o tempo?
Em suas divisões de hora, dia, mês ou ano, o tempo permanece exatamente igual; sendo assim, nós mudamos.
Não é possível controlar o tempo, porque ele passa.
Não espera e ponto. O que pode ser controlado são as ações no tempo, seu uso e as atividades no decorrer do dia. Claro que Faraó desejava todo o tempo dos filhos de Deus e, por isso, focou em algo que poderia ocupar sua agenda (Êx 5:8).
É importante lembrar que a maneira como usamos o tempo pode deixar explícito quem governa nosso coração. O Criador do tempo (Gn 2:1, 2) determinou uma
agenda de seis dias de trabalho e o sétimo para descanso. Quando seguimos nessa direção, indicamos que tememos a Deus, adorando “aquele que fez o céu, e a terra, e o mar, e as fontes das águas” (Ap 14:7).
O dever de adorar a Deus se baseia no fato de que Ele é o Criador, e que a Ele todos os outros seres devem a existência.[…] enquanto o fato de que Ele é o nosso Criador continuar a ser razão por que O devamos adorar, permanecerá o sábado como sinal e memória disto. Tivesse sido o sábado universalmente guardado, os pensamentos e afeições dos homens teriam sido dirigidos ao Criador como objeto de reverência e culto, jamais tendo havido idólatra, ateu, ou
incrédulo. A guarda do sábado é um sinal de lealdade para com o verdadeiro Deus, “Aquele que fez o céu, e a Terra, e o mar, e as fontes das águas”. Apocalipse 14:7. Segue-se que a mensagem que ordena aos homens adorar a Deus e guardar Seus mandamentos, apelará especialmente para que observemos o quarto mandamento. — O Grande Conflito, p. 436 e 438.
O uso do tempo revela quem detém o domínio de nosso coração. Ao final de uma semana, cada dia terá
revelado em sua extensão quem esteve no controle de tudo. É bom que revisemos o uso do tempo, vejamos quem exatamente está ditando nossas atividades, conduzindo nossa rota em um tempo que sempre passa e nunca espera. Não nos esqueçamos que Aquele que pode definir o que fazemos no tempo será de fato o Senhor de nossa vida.
Tempo eu tenho, talvez não disponibilidade.
Certo dia, em uma sala de aula, depois de ouvir o
professor falar sobre a grande quantidade de páginas e livros exigidos como requisitos da matéria, o aluno retrucou: “Professor, não tenho tempo, pois o meu dia é
extremamente ocupado”. Imediatamente, o professor
respondeu com uma pergunta provocante: “O que você
faz das 22h às 6h da manhã?”
Antes de escolhermos estar ao lado do professor ou
do aluno, vamos admitir que quando gostamos de algo,
encontramos tempo, certo? A vida está cheia de histórias de pessoas que lutam uma terceira jornada para
alcançar seus objetivos. Isso representa uma escolha,
seleção, a ação de dizer que talvez no presente momento duas horas de leitura serão mais importantes do que duas horas de TV.
Temos que ter cuidado com a expressão “não tenho tempo”, pois ela não retrata a ausência do recurso, mas revela a disponibilidade que temos ou não para certa atividade ou pessoa.
A parábola dos talentos proposta por Jesus sublinha, antes de tudo, que para Deus mais importante do
que a quantidade de talentos é a disponibilidade para
servi-Lo (Mt 25:14-30). Quando dizemos que a vida está
muito corrida e, por isso, não está sendo possível participar do culto, entenda que Faraó venceu, a estratégia deu certo.
Não é a importância depositada ou o aproveitamento obtido que traz aos homens a aprovação do Céu, mas a fidelidade, a lealdade a Deus, o amoroso serviço prestado, que trazem a bênção divina: “Bem está, bom e fiel servo. Sobre o pouco foste fiel, sobre muito te colocarei; entra no gozo de teu Senhor”. Mateus
25:23. Esta recompensa de alegria não espera até entrarmos na cidade de Deus, mas o servo fiel tem um antegozo dela mesmo aqui nesta vida. — The Signs of the Times, janeiro de 1893.
Este é um momento oportuno para pensar em nossa agenda. Quais têm sido as prioridades apontadas por nossas escolhas? Olhando para as atividades de meu dia, como está o tempo para minha devoção pessoal, família ou até mesmo para cuidar da saúde, através de atividades físicas? Talvez hoje seja o dia para rever prioridades e tornar-nos mais disponíveis para o que de fato é mais importante. É necessário nos avaliar e, quando uma necessidade for identificada, reorganizar a nossa vida de forma que caminhemos para fora do Egito, sempre na direção de um encontro com o nosso Deus.
Falando ainda sobre frases marcantes de professores, existe mais uma: “A pressa não muda nossas convicções, mas altera nossos valores”.
A afirmação feita pelo pastor Amim Rodor é profunda, incisiva e prática. Pergunte para um auditório cheio de crentes: “Quantos aqui entendem que é importante fazer o culto familiar todos os dias?” Dificilmente você encontrará alguém que não concorde com plena convicção, mas quando olhamos para a nossa vida, muitas vezes encontramos um lar com valores invertidos, sem um vivo altar de adoração.
Não basta conhecer o que mais importa, pois a convicção só resultará em valor se for vivida. A volta de
Jesus será um dia triste para muitos convictos de Seu retorno. A parábola das 10 virgens não fala de crentes e descrentes; todas aguardaram o noivo, no entanto, apenas cinco dedicaram tempo em preparo (Mt 25:1-13).
Na parábola da grande ceia, muitos apresentaram desculpas (Lc 14:16-24) e explicações não aceitáveis para o anfitrião. As palavras do dono da ceia serão as mesmas para os que não tiveram tempo de atender o convite das Bodas do Cordeiro: “Porque vos declaro que nenhum daqueles homens que foram convidados provará a minha ceia” (Lc 14:24).
Vivemos no tempo em que a última mensagem da graça, o convite final, está sendo enviado aos homens. A ordem “sai pelos caminhos e atalhos” (Lucas 14:23), está atingindo seu cumprimento final. A toda pessoa será apresentado o convite de Cristo. Os mensageiros estão
dizendo: “Vinde, que já tudo está preparado.” Lucas 14:17. Os anjos celestes ainda cooperam com os agentes humanos. O Espírito Santo apresenta todo o estímulo para vos constranger a ir. Cristo aguarda algum sinal que demonstre que o ferrolho está sendo puxado, e a porta de vosso coração Lhe está sendo aberta. Os anjos esperam levar para o Céu a boa nova de que outro pecador perdido foi achado. Os exércitos celestiais aguardam, prontos para tocar suas harpas e cantar um hino de alegria, porque mais um pecador aceitou o convite para a ceia do evangelho. — Parábolas de Jesus, p. 124
A expectativa de vida do brasileiro é de, aproximadamente, 75 anos. Tendo esse número como referência,
uma rápida conta nos ajudará a pensar em muitas atividades de nosso dia.
Em média, o tempo de uso da TV passa de seis horas por dia. Isso significa que, ao longo da vida, uma pessoa facilmente poderá atingir 18 anos sentada em frente à telinha.
Pensando em um membro regular da Igreja Adventista do Sétimo dia, que frequentou a igreja desde o
nascimento, ao menos sete horas por semana ele foi ao templo. Se fosse hoje, contando cultos de domingo, quarta, sábado, culto jovem, etc., essa soma daria um
pouco mais de três anos na igreja.
Não quebre a TV, mas faça as contas do uso do tempo que você faz. É importante que vejamos o que é mais relevante e coloquemos uma nova vida em prática.
A melhor maneira de terminarmos este assunto é pegando emprestadas as palavras de Moisés: “Ensina-
-nos a contar os nossos dias, para que alcancemos um coração sábio” (Sl 90:12).
Esse homem de Deus acompanhou a vida de muitas pessoas e chegou à conclusão de que nossos dias aqui nesta Terra passam rapidamente (Sl 90:10).
Lembre-se, o tempo passa e não espera. O melhor que podemos fazer é, através da sabedoria do alto,
alcançar as melhores escolhas para o uso do curto espaço de tempo que temos aqui.
Vamos abrir a agenda do coração permitindo que
Deus seja o Senhor do nosso tempo, para que alcancemos Nele um coração sábio e vivamos nas mãos de
quem tem “sido o nosso refúgio, de geração em geração.” (Sl 90:1).