10 dias de oração – Tema 2
Quem serão aqueles cuja fidelidade será aprovada?
Serão aqueles que definitivamente escolheram a fidelidade a Deus a qualquer custo, inclusive da própria vida.
Meditaremos sobre João Batista e sua família, e seus dilemas no caminho da fidelidade aprovada.
Textos: “Feliz é aquele que não se escandaliza por minha causa” (Lucas 7:23).
“Eu lhes digo que entre os que nasceram de mulher não há ninguém maior do que João; todavia, o menor no Reino de Deus é maior do que ele” (Lucas 7:28).
Parte 1
Lucas 1 conta que Zacarias e Isabel, idosos, não tinham filhos. Viviam na Judeia e são definidos como fiéis e justos que aguardavam a vinda do Messias, como luzes em meio às trevas daqueles dias maus.
Zacarias, sacerdote, duas vezes por ano, passava uma semana em Jerusalém, ministrando no templo. Certo dia, diante do altar de ouro, enquanto oferecia incenso, no lugar santo, com as orações do povo, de súbito, apareceu Gabriel, o anjo enviado do trono de Deus, em pé à direita do altar. Zacarias teve medo e sentiu-se indigno. Não se
deu conta de que a presença do anjo à direita do altar indicava o favor de Deus.
Gabriel o acalmou. Ele lhe trazia boas-novas. Ser pai não era tudo o que tanto desejara e por que orara? Deus estava respondendo às suas orações com um filho que lhe traria muito prazer e alegria.
Zacarias duvidou porque viu as misericórdias de Deus grandes demais para serem reais. Conhecia a história de Abraão, mas olhou sob a perspectiva da fraqueza humana em vez de crer que Deus é fiel ao que promete.
Por sua incredulidade, ele ficaria mudo até que João nascesse. Ao sair do templo, ele se comunicava com o povo apenas por sinais. Assim que João nasceu, Zacarias voltou a falar.
Lição 1
Na caminhada rumo à fidelidade a Deus, há momentos de descrença. E quando necessário, Deus nos repreende.
Somos tardios em aprender e prontos a esquecer.
Como pai de um mensageiro de Deus, Zacarias deveria ser aprovado diante de Deus. Por exemplo, transmitiria ao filho uma profunda e solene impressão de quão sagrada seria sua vida. E essa impressão o acompanharia durante seu ministério. Por ter duvidado, o pai fora reprovado com a mudez.
Que exemplos espirituais de fidelidade nós, pais, estamos deixando aos nossos filhos? Os questionamentos que rebaixam a norma divina à nossa? A incredulidade de que o sangue de Cristo pode nos purificar de todo e qualquer pecado? A falsa crença de que Deus fazia milagres apenas no passado?
Caso falhemos, é possível que Deus nos reprove permitindo alguns testes para percebermos a necessidade de nos submetermos à Sua Palavra.
Parte 2
Quando o anjo apareceu a Zacarias, deu-lhe as recomendações necessárias para que o filho fosse preparado plenamente para cumprir sua missão. Ele nunca deveria tomar vinho ou bebida fermentada e seria cheio do Espírito Santo.
A missão de João, a maior já confiada a homens, exigiria disciplina. Ele levaria luz aos homens, imprimindo-lhes direção aos pensamentos, impressionando-os quanto à santidade das exigências divinas, da obediência e da defesa da justiça divina.
Para isso, deveria ser um templo para habitação do Espírito Santo, ter “sã constituição física e resistência mental e espiritual. Deveria reger o apetite e as paixões e dominar faculdades para estar tão inabalável ante as circunstâncias ambientais, como as rochas e montanhas do deserto”
(O Desejado de Todas as Nações, p. 199).
A cobiça das riquezas, o amor ao luxo, à ostentação, aos prazeres sensuais e à glutonaria que cercavam João levavam a degeneração física e dessensibilização espiritual.
João seria o reformador. Sua vida de abstinência e simplicidade seria uma repreensão aos adeptos daquele estilo de vida libertino. Não foi por pouca coisa que o anjo assistente de Deus deu instruções claras sobre temperança.
Lição 2
Sejamos pais ou filhos, também temos uma missão sagrada. É nosso dever cuidar do corpo para estarmos sensíveis à voz de Deus.
Se Deus aparecesse agora em busca de alguém para uma missão como a de João, você e seus filhos estariam prontos?
Deus está hoje buscando crianças, adolescentes, jovens e idosos para também preparar o caminho para a vinda do Senhor.
“Na infância e na juventude, o caráter é extremamente impressionável. Deve-se adquirir então o domínio próprio. Exercem-se no círculo familiar, ao redor da mesa, influências cujos resultados são duradouros.
A juventude é o tempo da semeadura” (O Desejado de Todas as Nações, p. 86).
No cérebro humano, está o chamado sistema límbico, e, dentre suas funções, ele é responsável pelas emoções e pela memória. Os irracionais também o possuem, porém, nós recebemos uma estrutura superior.
Para percebermos a voz de Deus, precisamos ter nosso córtex pré-frontal, sede da razão, da espiritualidade e freio do comportamento, bem irrigado com sangue saudável proveniente daquilo que comemos e bebemos. Mas também devemos cuidar daquilo que vemos, tocamos, ouvimos, cheiramos e pensamos. Tudo isso impacta o
funcionamento do cérebro e o molda. Individualidade, autonomia e liberdade moral nos foram concedidas por Deus, mas apenas faremos bom exercício delas se formos temperantes. Do contrário, seremos maria vai com as outras, levados por crenças, vícios, hábitos nocivos que a maioria das pessoas tem e nos quais não vê mal nenhum.
O inimigo sabe quanto nosso caráter e nossa fidelidade a Deus podem ser comprometidos pelos hábitos nocivos.
Por isso, ele nos tenta com intemperança, seja no comer e beber, nas horas de sono, no entretenimento, seja pela sensualidade, pela ostentação ou pela busca de prazeres que ofuscam a voz de Deus.
Como nos comprometeremos com as coisas do Céu e cultivaremos a fidelidade que Deus aprova, se, por maus hábitos, o templo do Espírito Santo não estiver apto para recebê-Lo? As instruções divinas dadas aos pais de João servem àqueles que desejam ter a fidelidade aprovada
diante de Deus.
Parte 3
Embora tivesse vida simples na solitude do deserto, João Batista não era ocioso antes de seu ministério. Cercado pelo silêncio da natureza, orava, estudava as promessas e profecias e refletia sobre como alcançar corações tão embrutecidos por engano e opressão e adormecidos em seus pecados.
Lucas 3 detalha o contexto político da época de seu ministério, quando ele tinha aproximadamente 30 anos.
Era o 15º ano do reinado de Tibério César. Pôncio Pilatos governava a Judeia; Herodes, a Galileia; seu irmão Filipe, a Itureia e Traconites; Anás e Caifás exerciam o sumo sacerdócio.
Sob o domínio de Roma, a Judeia estava às portas de uma revolta. Um crescente ódio e um intenso desejo de libertação da imposição da idolatria, da tirania e da extorsão romana marcavam aquele período.
Então, surgiu um homem vestindo uma túnica de pelo de camelo presa com um cinto de couro vibrando a voz severa e ao mesmo tempo cheia de esperança. “Raça de víboras! Arrependei-vos! Que ideia é essa de que vocês poderão fugir da ira que se aproxima? Já está posto o
machado à raiz das árvores.” Sem eufemismos ou condescendência com quem quer que fosse, João era destemido, convincente, claro e incisivo. Eram necessários arrependimento, fé e frutos.
João causou comoção nacional. Muitos achavam que fosse o Mestre. Mas ele sempre encaminhava as honras que lhe dirigiam ao Mestre que viria.
Jesus veio e foi batizado.
João cumprira sua missão. Com o advento do Messias, a popularidade dele se esvaía. As multidões que afluíam para ouvi-lo, agora, cercavam o Salvador. Os discípulos de João expressaram ciúmes e descontentamento. Satanás usava seus melhores amigos para que, no tempo derradeiro de seu ministério, estorvassem a obra do Messias.
Herodes Antipas, filho de Herodes, o grande, fora um de seus ouvintes e sentira o chamado para o arrependimento.
Reconhecera seu estado pecaminoso com a cunhada Herodias. Até tentou se desfazer das cadeias diabólicas que o prendiam. Herodias, irada, prendeu-o mais firmemente a suas armadilhas e, vingativa, instigou-o a prender João.
Em Lucas 7, está a continuidade do ministério de Jesus, iniciado com seu batismo pelo primo João. A partir do verso 18, vemos um João diferente: arrancado de seu trabalho ativo, semana após semana dentro de uma prisão, triste e cheio de dúvidas.
Seus discípulos o visitavam com notícias da popularidade de Jesus e lhe perguntavam por que o Messias para o qual abrira o caminho não o tirava dali. Esses questionamentos foram planejados por Satanás para instigar o fiel João ao vitimismo.
Lição 3
Do seio de nossa família e dentre nossos melhores amigos surgirão aqueles que, usados pelo inimigo, ameaçarão nossa fidelidade. Eles nos instigarão à desconfiança, à dúvida e à autocomiseração.
João não seria jamais seduzido por dúvidas se essas tivessem vindo de outras fontes. “Quantas vezes os que se julgam amigos de um homem bom e anseiam mostrar fidelidade para com ele se mostram os mais poderosos inimigos! Quantas vezes em lugar de lhes fortalecer a fé,
suas palavras deprimem e desanimam!” (O Desejado de Todas as Nações, p. 215).
Satanás usará também pessoas próximas a você para tentá-lo a sentir autopiedade e a renunciar à fidelidade, em vez de olhar para Cristo e confiar em Sua soberania.
Parte 4
Embora tivesse trabalhado fielmente, da mesma forma que seus discípulos, “João não compreendia a natureza do reino de Cristo”
(O Desejado de Todas as Nações, p. 215). Quando seus discípulos reclamaram que o Prometido não tomava o trono de Davi nem exigia autoridade real, João ficou confuso e preocupado. Repetira ao povo
que a profecia de Isaías se cumpriria em breve, pregara que o Messias abateria o orgulho dos opressores, e Jesus parecia não cumprir o que prometera.
Abatido e torturado por demônios, João pediu que os discípulos fossem a Jesus. Da afirmação cheia de convicção por ocasião do batismo de Jesus, “Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo”, João agora queria saber se Cristo era o “que haveria de vir” ou se eles deveriam esperar algum outro.
Assim que Cristo recebeu os homens, não respondeu de imediato. O dia todo, ao acompanharem-No surpresos com Seu silêncio, testemunharam enfermos, aflitos, cegos, surdos, mudos, paralíticos e possessos sendo curados, o povo sendo ensinado e revigorado com as novas da vida eterna. Ao final do dia, Jesus disse: “Voltem e anunciem a João o que vocês viram e ouviram” (v. 22).
Ao ouvir o relato, João finalmente compreendeu que as obras não apenas comprovavam que Jesus era o Messias, como também mostravam a forma como Seu reino seria estabelecido, não com “armas e subversão de tronos, mas falando ao coração dos homens por uma vida de misericórdia e sacrifício” (O Desejado de Todas as Nações, p. 217).
João também compreendeu que a missão do Salvador, cumprida com amor abnegado, despertaria ódio e condenação. Como precursor, ele estava apenas bebendo parte do cálice que Cristo beberia inteiro. João também compreendeu as palavras do Salvador: “Bem-aventurado aquele que não se escandalizar em Mim” como uma branda repreensão. Vendo claramente a natureza da missão de Cristo,
aceitou seu papel e “entregou-se a Deus para a vida e para a morte, segundo melhor conviesse aos interesses da causa que amava” (O Desejado de Todas as Nações, p. 218).
Logo que os mensageiros de João partiram, Jesus falou ao povo a respeito dele. Cheio de simpatia por aquele fiel servo na prisão, Jesus deixou claro que sua fidelidade fora aprovada! Não, definitivamente, João não era como os rabis – aquelas canas trêmulas que os rodeavam e que se agitavam a qualquer pequena brisa de aprovação ou
preconceito popular. João não temera, mas demonstrara sua fidelidade a Deus e aos princípios. A todos falara com franqueza, fora firme como a rocha! “E eu vos digo que, entre os nascidos de mulheres, não há maior profeta do que João o Batista […]” (Lucas 7:28).
Lição 4
Será nossa fidelidade aprovada? Compreendemos a natureza do reino de Deus ao enfrentarmos aflições por amor a Ele? Compreendemos os propósitos que Deus pode colocar em nossas dores para nos aperfeiçoar ao Céu? Compreendemos que nosso lar não é aqui? Compreendemos a recompensa que nos aguarda?
Os valdenses viviam no Vale de Pragelas, na Itália. Seus cidadãos, fiéis a Deus, eram chamados amigos de Deus por sua bondade, simplicidade, bons costumes e conversas sábias. Tinham hábitos simples e saudáveis, não acumulavam riquezas e comiam daquilo que plantavam.
Seus mestres trabalhavam como tecelões ou sapateiros, mas também estudavam e ensinavam aos outros. Alguns viajavam entre as igrejas ajudando doentes, ensinando e encorajando os membros com pouco acesso à escola e aos livros.
Por sua lealdade e fidelidade a Deus, e desobediência às leis romanas, eles eram perseguidos pelos papas antigos.
Muitos foram punidos nos instrumentos de tortura; outros morreram à espada ou na fogueira. Mas não temiam o sofrimento e a morte, e cresciam em número.
Por volta do ano 1400, a perseguição aos valdenses se intensificou. Fazia pouco tempo que os soldados haviam invadido o Vale de Pragelas e matado adultos e crianças.
Era véspera de Natal, e a neve bloqueava as passagens entre as montanhas que cercavam o vale. Mas os valdenses viram uma tropa armada a caminho deles. Às pressas, os pais tomaram as crianças, os jovens carregaram os idosos e doentes, e todos fugiram para as montanhas.
Os soldados seguiram os passos deixados na neve e os alcançaram, matando os mais fracos. Ao escurecer, os soldados voltaram à cidade, passando a noite nas casas vazias. Enquanto isso, os fiéis continuaram a caminhar na nevasca, pelo vale de San Martino, onde acamparam
no cume, o qual posteriormente chamou-se Albergue, ou refúgio, em memória do evento.
Famintos e cansados, cercados de neve, os sofrimentos eram inexprimíveis.
Quando amanheceu, o espetáculo era comovente…
Alguns haviam perdido mãos e pés congelados, outros jaziam na neve sem vida. Mais de 50 crianças haviam morrido de frio; algumas, deitadas no gelo descalças, outras envoltas nos braços congelados das mães mortas.
Que também sejamos firmes como as montanhas e rochas, como foram João, os valdenses e tantos outros mártires. Que estejamos prontos para morrer, caso seja necessário, para, finalmente, ouvirmos do Senhor:
“Venha, meu servo fiel! Você foi aprovado!”
Mirian Montanari Grüdtner
Escritora e esposa de pastor