Felicidade

SEMANA SANTA – Por Pablo Ale – pastor e jornalista, trabalha como redator e editor da ACES.


“Ela tinha um sorriso melancólico.”

“No quarto, um silêncio ensurdecedor
era sentido.”
“Foi uma experiência agridoce.”
“Um fogo gelado que penetrava nos ossos.”
Você nota algo estranho nessas frases?
Sem dúvida! Elas têm palavras contraditórias. Como seria um fogo gelado ou um
sorriso triste? Impossível!
Estamos diante de uma figura retórica denominada oximoro, que consiste
em complementar uma palavra com outra que tenha um significado contraditório ou oposto. Sem saber, talvez tenhamos a
tendência de usar o oxímoro na vida diária (nem é preciso dizer que ele é muito usado
em poemas e textos literários).
Quando tentamos unir ou relacionar as palavras “felicidade” e “Apocalipse”, temos a nítida sensação de que algo não coincide. Poderíamos muito bem acrescentar
este oximoro à lista: “felicidade apocalíptica”. Como um livro pode ser feliz ao falar
de dragões que atacam, taça da ira de Deus, bestas que perseguem e matam, tribulações, perseguições e martírios? Não existe uma forma lógica de pensar que o Apocalipse seja um livro tranquilo e aprazível como os Salmos ou com histórias agradáveis
sobre Jesus como as que encontramos nos evangelhos.
No entanto, existe felicidade no Apocalipse. E muita. Em todo o livro, aparece a
palavra “bem-aventurado” sete vezes (sim, é o mesmo termo grego que Mateus usa
nas bem-aventuranças, no capítulo 5 do seu livro).
Eu os convido a ler essas sete bem-aventuranças apocalípticas e descobrir em
cada uma delas uma mensagem de ânimo e conhecimento para nossas vidas. Por isso, hoje, desde a longínqua Ilha de Patmos, esta mensagem atravessa os tempos e
chega até nós.

  1. A felicidade ao estudar a Bíblia (Apocalipse 1:3)
    O imaginário coletivo popular pensa que a felicidade é viajar, ficar relaxado no sofá
    da sala assistindo Netflix ou deitado na cama se atualizando nas redes sociais. Mas
    felicidade em estudar? Sim. Não se trata de uma atividade acadêmica para fazer uma
    prova; mas de um exercício diário, pessoal e vital para a vida cristã. Um dia em que
    não abrimos a Bíblia é um dia em que não ouvimos a voz de Deus para nos guiar e
    encorajar. Abrir a Bíblia é como abrir uma janela para a eternidade. Não devemos
    desperdiçar esse enorme privilégio.
    Na época de João, nem todos tinham acesso físico a um exemplar dos rolos sagrados. Ao frequentar a sinagoga, a pessoa designada lia uma parte da Palavra de Deus.
    Por isso, a primeira bem-aventurança está no singular (feliz o que lê), e as próximas no
    plural (os que ouvem e os que guardam). Mesmo que poucos pudessem ler, todos podiam ouvir, entender e obedecer. Hoje não temos essas restrições. Todos nós temos
    acesso a um exemplar da Bíblia, mesmo que digitalmente.
    Mas esse privilégio envolve uma grande responsabilidade. Não é suficiente conhecer o conteúdo das Escrituras. A felicidade também está em ser obediente ao que ela
    diz, tal como apresenta Lucas 11:28: “Bem-aventurados os que ouvem a palavra de
    Deus e a guardam”.
    Vamos ler o livro do Apocalipse e ser felizes.
  2. A felicidade do dever cumprido (Apocalipse 14:13)
    Se antes falamos sobre o oximoro, este texto poderia muito bem ser enquadrado
    dentro do que chamamos de paradoxo (ou seja, uma frase ou ditado aparentemente
    contrário à lógica). O texto diz que os que morrem são felizes. Mas claro, não se trata
    de qualquer morte. Diz “os que morrem no Senhor”. E mesmo que a morte seja algo
    triste, não é uma tragédia final para uma pessoa que morre pronta para ir para o Céu.
    Como Paulo disse “O viver é Cristo, e o morrer é ganho” (Fp 1:21).
    Essa bem-aventurança se enquadra no contexto das três mensagens angélicas e se
    refere àqueles que já cumpriram sua obra nesta Terra. Quando isso acontece, a providência divina decide que eles descansem, sabendo que em breve ressuscitarão (1Ts
    4:13-18). O texto diz que eles são felizes porque seus trabalhos cessarão, mas suas
    obras continuam com eles. Claro, isso não significa que essas pessoas justas continuarão a viver em algum lugar depois de morrerem. Não. A Bíblia é muito clara sobre
    o estado dos mortos: nada sabem, estão dormindo, perecem totalmente (seu corpo,
    sua alma, tudo). E os justos ressuscitarão quando Jesus voltar pela segunda vez (Ec
    9:5-7; Sl 146:4). Que “suas obras os sigam” faz referência ao bom legado e à saudável
    influência que essas pessoas deixaram com suas vidas e seu ministério. E ao morrer,
    continuam sendo lembradas dessa forma.
    Existe uma forma de saber se sua missão neste mundo terminou: se você está vivo,
    não terminou. Por isso, cumpra hoje o que Deus lhe ordena. Faça parte da missão.
    Existe felicidade nisso também. Vamos ler o livro do Apocalipse e ser felizes.
  3. A felicidade de estar preparado (Apocalipse 14:13)
    A Bíblia não diz que devemos nos preparar para a segunda vinda de Jesus. Não.
    Diz que devemos estar preparados (Mt 24:44). Essa diferença de tempo verbal pode
    ser a diferença entre a morte eterna e a vida eterna.
    Tanto em Apocalipse como em Mateus 24, Jesus adverte que virá de surpresa,
    como um ladrão. Note que interessante o simbolismo: embora em outras partes da
    Bíblia o ladrão seja identificado com Satanás, aqui ele é usado como um símbolo de
    Cristo, devido a Sua aparição repentina.
    Além disso, o versículo 15 de Apocalipse 16 nos convida a “guardar nossas vestes”, ou seja, guardar os mandamentos de Deus e viver de acordo com eles. Por isso,
    devemos vigiar, ou seja, ficar atentos e vigilantes. Essa ação envolve estar com a luz
    da vela e acordados durante a noite toda. Nessa batalha espiritual, não podemos dar
    vantagem. Devemos ser vigilantes e não podemos adiar nossa preparação. Ela deve
    ser feita hoje, agora! Não devemos ser como o servo da parábola que dizia: “O meu
    senhor, tarde virá”. Esse raciocínio lhe dava luz verde para ter um estilo de vida distante dos princípios divinos (Mt 24:45-51).
    Estar prontos hoje nos dá paz e alegria. Vamos ler o livro do Apocalipse e ser felizes.
  4. A felicidade por fazer parte (Apocalipse 19:9)
    Você já foi convidado para um casamento? Foi um convite para a cerimônia religiosa
    na igreja e depois para a festa, ou somente convidaram para a igreja? Por razão de
    orçamento e logística, muitos casais convidam todos os amigos e conhecidos para a
    igreja onde será o casamento. Mas a festa, com a comida incluída, costuma ser somente para os familiares e amigos mais íntimos.
    Que maravilhoso é receber convites! É muito bom fazer parte!
    Mas aqui não somos convidados para uma celebração qualquer. É nada mais nada
    menos que a festa de casamento mais sublime do Universo. O Apocalipse é um livro
    simbólico, e ali o Esposo representa Cristo, e a esposa, Sua igreja. Ela ser pura e vir-
    gem implica que não está contaminada por doutrinas pagãs (ver Apocalipse 17:1-6).
    É interessante notar que a metáfora que Deus usa para refletir a união com Seu
    povo é a do casamento heterossexual e monogâmico. Isso não somente tem relação
    com Gênesis 1 e 2, mas com toda a Escritura.
    Deus nos convida hoje para essa celebração grandiosa. Podemos ir até Ele para
    obter Seu perdão e começar a preparação para o Céu. Sabemos que ninguém entra
    em uma festa sem uma vestimenta de acordo com a ocasião. Aqui acontece a mesma
    coisa (ver Mt 22:11). Somente se tivermos o manto da justiça de Cristo e um caráter de
    acordo com o Dele, poderemos entrar no Céu. Que alegria!
    Vamos ler o livro do Apocalipse e ser felizes!
  5. A felicidade por vencer a morte (Apocalipse 20:6)
    Falamos um pouco sobre esse assunto na segunda bem-aventurança. A morte é
    nosso maior inimigo, mas também é o salário do nosso pecado (Rm 6:23). Estamos
    condenados a morrer. Mas pela graça de Deus e a vitória de Jesus, nosso Salvador,
    podemos obter a vida eterna.
    Antes falamos da felicidade de morrer no Senhor, e agora mencionamos a felicidade por fazer parte da primeira ressurreição. O que significa isso? Podemos explicar
    desta forma:
    Todas as pessoas que morrerem serão ressuscitadas, mas nem todas compartilharão
    o mesmo destino nem ressuscitarão ao mesmo tempo (Dn 12:2; Lc 14:14; Jo 5:28,29).
    Os mortos justos ressuscitarão quando Jesus voltar (1Ts 4:13-18) e irão para o Céu por
    mil anos (Ap 20:4). Por outro lado, os mortos injustos ressuscitarão após o milênio,
    quando Jesus voltar à Terra para purificá-la e para que todos vivam nela para sempre
    (Ap 20:5).
    Por sua vez, a Bíblia diferencia dois tipos de morte. A morte natural, que se chama
    “primeira morte”, a que a maioria dos seres humanos sofrerá (somente aqueles que
    tenham ido ou vão para o Céu sem ver a morte não passarão por essa experiência).
    Essa morte é triste, mas não é o fim definitivo. Existe ressurreição e esperança após
    essa morte. Portanto, essa bem-aventurança refere-se a isso. É chamada de “segunda
    morte”, a que acontecerá após o milênio, quando Deus destruirá o pecado para sempre (e as pessoas que escolheram esse caminho). Após essa morte, não existe mais
    ressurreição nem esperança.
    Por essa razão, Apocalipse 20:6 diz: “Bem-aventurado e santo aquele que tem parte na primeira ressurreição; sobre estes não tem poder a segunda morte, mas serão
    sacerdotes de Deus e de Cristo e reinarão com ele mil anos”.
    Que felicidade saber que Deus solucionou nosso maior problema e que, graças a
    Ele, venceremos a morte!

    Vamos ler o livro do Apocalipse e ser felizes.
  6. A felicidade por ser guardiões da Palavra (Apocalipse 22:7)
    O último capítulo da Bíblia traz consigo as duas últimas bem-aventuranças. Parece
    que, quando nos aproximamos do fim, Deus quer nos lembrar do maravilhoso destino
    que nos espera.
    Após reafirmar que as palavras da Bíblia são fiéis e verdadeiras, argumenta-se que
    a felicidade está em guardar as palavras que Deus revelou.
    Guardar não significa somente obedecer, mas proteger ou conservar. Somos chamados não somente para viver as verdades sagradas da Bíblia, mas para protegê-las
    garantindo sua impressão e difusão. Existiu uma época na história deste mundo em
    que os escritos sagrados eram queimados e destruídos. A Bíblia foi perseguida, e
    aqueles que a possuíam também eram. Mas, pela graça de Deus, sempre existiram homens e mulheres fiéis que arriscaram
    suas vidas e prestígio para resguardar a Palavra de Deus. Eles investiram seu tempo e
    dinheiro para traduzir e imprimir Bíblias a fim de divulgá-las. Um povo que lê e estuda
    a Bíblia é um povo com valores. E isso faz a diferença.
    Hoje nós temos esse privilégio e essa responsabilidade. Nisso também existe felicidade.
    Vamos ler o livro do Apocalipse e ser felizes.
  7. A felicidade da vida eterna (Apocalipse 22:14)
    Nós dizemos: O Apocalipse tem uma “imprensa negativa” ou “imagem ruim”.
    Parece que está cheio de medo e situações que dão medo, mas não. É um livro que
    transborda promessas maravilhosas. E não poderia acabar sem deixar esta declaração
    encorajadora: Teremos acesso à árvore da vida!
    É claro, a salvação é um presente de Deus. Nosso papel deve ser ir até Ele para
    sermos justificados e santificados. E como resultado desse relacionamento com Ele,
    realizar boas obras. A última bem-aventurança da Bíblia está em harmonia com todo
    o conteúdo: Obedecer aos mandamentos de Deus traz felicidade.
    Como foi mencionado anteriormente, “lavar as roupas” é um simbolismo para
    “obedecer aos mandamentos”. Não há segredo mágico nem soluções estranhas. É
    muito simples: A fidelidade traz recompensa. Mas somos nós que decidimos. Adão e
    Eva decidiram e, ao desobedecer, sofreram as consequências. Isso acontece em todas
    as histórias e em todos os versículos da Bíblia. Basta lembrar o texto de Eclesiastes
    12:13, 14: “De tudo o que se ouviu, a conclusão é esta: tema a Deus e guarde os seus
    mandamentos, porque isto é o dever de cada pessoa. Porque Deus há de trazer a juízo todas as obras, até as que estão escondidas, quer sejam boas, quer sejam más”.
    Além disso, Salmo 1:1-3 nos lembra onde reside a verdadeira felicidade: “Bem-aventurado é aquele que não anda no conselho dos ímpios, não se detém no caminho dos
    pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores. Pelo contrário, o seu prazer
    está na lei do Senhor, e na sua lei medita de dia e de noite. Ele é como árvore plantada
    junto a uma corrente de águas, que, no devido tempo, dá o seu fruto, e cuja folhagem
    não murcha; e tudo o que ele faz será bem-sucedido”.
    Apocalipse continua nessa mesma linha. Após a bem-aventurança de Apocalipse
    22:14, o versículo 15 diz: “Ficarão de fora os cães e os feiticeiros, e os que se prostituem, e os homicidas, e os idólatras, e qualquer que ama e comete a mentira”. Ou
    seja, aquele que escolhe o caminho do pecado colherá frutos de acordo com sua escolha. Deus nos dá liberdade de ação. Cabe a nós decidir.
    Você tem uma árvore preferida? Qual é? Desde pequeno (graças à leitura do livro O
    Pequeno Príncipe), eu gostava dos baobás. Naquele tempo não havia Internet. Então,
    eu pegava todas as informações sobre eles em livros ou enciclopédias. Minha primeira grande desilusão foi saber que elas estavam na África. Não somente um oceano
    imenso me separava dessas árvores, mas havia razões econômicas e logísticas. Cresci
    pensando que nunca poderia ficar embaixo da minha árvore preferida.
    Os anos passaram, e o mundo mudou (para melhor e para pior). Por meio da rede
    das redes, consegui não só mais informações sobre essa árvore, mas fotos e vídeos.
    Agora os baobás parecem estar mais perto e reais.
    As voltas da vida e as viagens a trabalho me levaram à África do Sul em um frio mês
    de julho. Ali, ao visitar o Parque Kruger, renasceu a esperança. Por fim conheceria a
    árvore da minha infância. Mas não foi possível. Os baobás estavam a mais de 400km
    de onde estávamos.
    Alguns dias mais tarde, ao visitar o jardim botânico daquele país, tive uma grata
    surpresa. A estufa do lugar tinha um baobá. Apenas um, mas com isso eu realizava o
    sonho da minha infância. Por fim, estaria perto da minha árvore preferida! Entrei e não
    havia ninguém no lugar (todos estavam vendo as lindas flores do lado de fora). Eu me
    aproximei e o toquei. Passei um tempo lembrando quanto tempo tinha desejado conhecer essa árvore. Graças a Deus, em poucos minutos apareceu um grupo de turistas
    orientais e pedi que tirassem uma foto minha com a árvore. O sonho estava realizado.

    Nosso maior anseio é estar no Céu com Jesus ao lado da árvore da vida. É um
    sonho que, às vezes, parece distante. Um oceano de pecados nos separa dele. A desesperança nos invade, e as pressões deste mundo nos afogam, fazendo-nos perder
    de vista a Pátria celestial.
    Mas um dia isso se tornará realidade. Os justos irão para o Céu e desfrutarão da
    eternidade com Deus, graças ao sacrifício de Jesus na cruz.
    Eu consegui ficar embaixo da minha árvore preferida, mas meu grande desejo é
    ficar embaixo da árvore da vida. E desejo que você também esteja lá comigo. Esse
    será o maior sonho.
    Hoje eu convido você a estudar o Apocalipse e contar aos outros sobre essa mensagem. E ao fazê-lo, faça com um sorriso, é claro; pois ler esse livro nos traz felicidade.
    Ellen White escreveu em Testemunhos Seletos, volume 3, página 197: “Através de
    todo o livro do Apocalipse se encontram as mais preciosas e enobrecedoras promessas, assim como advertências da mais tremenda e solene importância. Não quererão
    os que professam possuir conhecimento da verdade ler o testemunho dado por Cristo
    a João?”.
    Vamos ler o livro do Apocalipse e ser felizes.