VENCENDO NO SOFRIMENTO

Dia 4
PRIMEIRO DEUS: RUMO AO LAR

Texto bíblico:
“Lancem sobre ele todas as suas ansiedades, porque ele cuida
de vocês” (1Pe 5:7).


Ao nos sentirmos nervosos ou preocupados com diversas questões que vivemos cotidianamente, estamos, de uma forma ou de outra, expressando algum grau de ansiedade em nossas vidas. Esse tipo de sensação faz parte da experiência humana, que nos lembra que estamos vivos. Por outro lado, existem também os chamados transtornos de ansiedade. Essa ansiedade patológica, diferente da primeira,
é constante, extensa e exagerada, e precisa de ajuda médica.
Nosso estudo de hoje não se concentrará na ansiedade patológica, que requer a opinião de um especialista, mas naquela que os seres
humanos experimentam em determinados momentos de estresse e
que é desencadeada ocasionalmente. Sem dúvida, essa é uma forma
de sofrimento, e, como crentes, não estamos isentos de seus ataques.
No estudo de hoje examinaremos os que o apóstolo Pedro, em sua
primeira carta, nos ensina sobre o que podemos fazer com esse tipo
de ansiedade (1Pe 5:1-11).

DEUS RESISTE AOS SOBERBOS (1Pe 5:1-5)
Não podemos negar que o cristão sofre. Nenhuma parte da Bíblia
diz o contrário (Sl 34:19; 2Tm 3:12; Tg 1:2-4). É importante levar em
consideração que, a partir da perspectiva bíblica, o que está aflito
não necessariamente está assim porque pecou. Os profetas e poetas do Antigo Testamento nos lembram que os maus às vezes prosperam, enquanto os justos padecem em aflição (Sl 73:3; Ec 7:15; Jó
21:7-17; Jr 5:28; 12:1). O livro de Jó ilustra perfeitamente isso, uma
história que nos ensina uma verdade fundamental: os justos também sofrem (Jó 1:1-2:13).
Pedro diz que não podemos nos surpreender “com o fogo que
surge”, como se isso fosse algo estranho (1Pe 4:12). Pelo contrário,
devemos nos alegrar, pois estamos sendo co-participantes dos sofrimentos de Jesus (1Pe 4:13). É um privilégio, Pedro disse, sofrer por
Cristo. Ao mesmo tempo, é uma vergonha e uma blasfêmia sofrer
perseguição por ser homicida e ladrão (1Pe 4:14-15). Por essa razão,
se vamos padecer, devemos fazê-lo porque somos cristãos, aceitando
a vontade de Deus (1Pe 4:16, 19).
Depois de dizer isso, Pedro se dirigiu aos anciãos da igreja (1Pe
5:1-4), que eram os líderes que cuidavam pastoralmente das regiões
do Ponto, Galácia, Capadócia, Ásia e Bitínia (1Pe 1:1). A ordem que
Pedro lhes deu que era para eles apascentassem o rebanho que Deus
havia deixado sob sua responsabilidade, “tendo cuidado dele, não
por força, mas voluntariamente” (1Pe 5:2, ACF). Eles não eram os
donos nem os senhores dos membros da igreja que ministravam.
Portanto, a liderança que deveriam exercer era a do exemplo (1Pe
5:3), mostrando entusiasmo na hora de servir o rebanho (1Pe 5:2).
Por causa disso, Pedro os animou a trabalhar, não por uma ganância
desonesta (1Pe 5:2), mas porque um dia eles receberiam “a imperecível coroa da glória” das mãos do Supremo Pastor (1Pe 5:4).
Em seguida, Pedro se dirigiu aos jovens, admoestando-os a se submeterem aos anciãos que os estavam liderando. Essa ordem repousa no mesmo princípio que Pedro empregou anteriormente. Pois,
assim como os líderes da igreja devem se submeter à liderança de
Pedro, os jovens devem se submeter aos anciãos (1Pe 5:5). O ato de
se submeter ao outro não é uma tarefa simples; é por isso que Pedro
os aconselha a se revestirem de humildade (1Pe 5:5). E essa admoestação não se dirige apenas aos jovens, mas também aos anciãos;
por isso ninguém está isento.
A palavra “humildade”, tal como é usada aqui nesta passagem, expressa uma atitude de serviço amoroso (At 20:19) que molda nossa
forma de tratar o próximo (Ef 4:2). Em essência, o termo descreve
uma pessoa que coloca as necessidades e desejos dos outros em primeiro lugar. Um autor que ilustra isso claramente é Paulo, que ordena: “Nada façam por ambição egoísta ou por vaidade, mas humildemente considerem os outros superiores a si mesmos” (Fp 2:3, Nova
Versão Internacional). Foi isso que o próprio Jesus fez, que, “embora
sendo Deus, não considerou que o ser igual a Deus era algo a que de-
via apegar-se; mas esvaziou-se a si mesmo, vindo a ser servo, tornando-se semelhante aos homens”

(Fp 2:6,7). Em outras palavras, o ato de humilhação que Pedro exige tem como modelo Jesus, que “se humilhou, tornando-se obediente até a morte, e morte de cruz” (Fp 2:8).
Pedro ressalta que uma disposição diferente, que se concentra em
si mesmo e se esquece do próximo, não é o caminho que o crente
deve seguir (1Pe 5:5). Isso porque Deus resiste aos soberbos (1Pe 5:5;
Pv 3:34). Uma pessoa soberba é aquela que age de maneira egoísta e
vã, independentemente das consequências que tal comportamento
acarrete. Em outras palavras, um soberbo quer ter o controle de sua
vida, sem sequer respeitar a vontade divina. Como então alguém que
age soberbamente poderia sofrer em nome de Cristo? Isso gera um
problema, porque aqueles que padecem fazem isso de acordo com a
vontade de Deus (1Pe 4:19). Isso explica por que Deus dá graça aos
humildes, que se submeteram à vontade divina a ponto de arriscar
suas vidas por Cristo (1Pe 4:12,13).
É importante destacar que nossa tendência como seres humanos é
assumir o comando de nossas vidas e nos tornar independentes de
Deus. A sociedade ocidental na qual vivemos nos ensina e nos motiva
a agir dessa maneira. Por outro lado, Pedro nos convida a transitar o
caminho contrário. Isto é, a ser submissos uns aos outros, para que,
dessa forma, aprendamos acima de tudo a ser obedientes a Deus.


A SOBERBA E A ANSIEDADE (1Pe 5:6,7)
Tendo em mente tudo o que foi dito anteriormente, Pedro nos convida a nos humilharmos “debaixo da poderosa mão de Deus” (1Pe
5:6). Isso significa reconhecer nossa insuficiência e limitações humanas. Não sabemos a razão nem porque sofremos, muito menos
sabemos o que acontecerá com nossa vida terrena no futuro. Pensando assim, o ato de se humilhar compreende permitir que Deus
dirija nossa vida e aceitar que o sofrimento que vivemos opere de
acordo com Sua vontade. Por isso, é essencial destacar que essa disposição submissa que Pedro nos admoesta a seguir não acontece em
um vazio existencial nem se realiza em um contexto sem rumo. A
submissão ocorre quando colocamos nossas vidas “debaixo da poderosa mão de Deus” (1Pe 5:6). Isso implica crer que a mão Daquele
que nos criou também tem cuidado de nós (1Pe 5:7).
Por ocasião do sermão da montanha, Jesus instruiu sobre o cuidado que Deus tem com aqueles que O amam. Jesus diz que nós somos
mais valiosos que as aves do céu e que os lírios do campo, e ainda
assim Deus os alimentas e os veste (Mt 6:25-30). Portanto, não fiquemos ansiosos com o que ainda não está acontecendo ou com o alimento que estaria faltando hoje em nossa mesa (Mt 6:31-34). Jesus
diz que devemos buscar primeiro “o Reino de Deus e a sua justiça, e
todas estas coisas nos serão acrescentadas” (Mt 6:33, adaptado).
É nesse contexto que Pedro nos convida a jogar toda a nossa ansiedade na mão poderosa de Deus (1Pe 5:7). O adjetivo “toda” ressalta
que a ansiedade que cada um experimenta pode ser distinta para
cada indivíduo, ou seja, pode assumir diferentes formas. Para alguns, pode ser o trabalho, e para outros, os filhos. Tanto faz. Pois não
importa o que nos aflija, o Senhor está pronto para ouvir, pois Ele Se
preocupa com o que acontece conosco (1Pe 5:7). Por essa razão, vale
a pena notar que o ato de lançar nossas ansiedades sobre Ele salienta a importância que a oração tem para o crente. O apóstolo Paulo
resume perfeitamente isso, ao dizer: “Não fiquem preocupados com
coisa alguma, mas, em tudo, sejam conhecidos diante de Deus os pedidos de vocês, pela oração e pela súplica, com ações de graças” (Fp
4:6). Portanto, oremos e falemos a Deus sobre a ansiedade que nos
mantém acordados e, em seguida, fechemos os olhos, acreditando e
confiando no poder de Sua mão poderosa (1Pe 5:6,7).


O DIABO TAMBÉM ESTÁ ANSIOSO (1Pe 5:8-11)
Pedro nos admoesta a praticar o domínio próprio e a vigiar (1Pe
5:8). Em ambos os casos, o que é necessário é tomar decisões e trabalhar em nossa “salvação com temor e tremor, porque Deus é quem
efetua em vocês tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa
vontade” (Fp 2:12,13). Dessa forma, o crente é chamado a crescer
espiritualmente e reconhecer que fazemos parte de um grande conflito cósmico, para o qual é nosso dever estar atentos às ciladas do
inimigo (1Pe 5:9).
O diabo, nosso adversário, “anda em derredor, como leão que ruge
procurando alguém para devorar” (1Pe 5:8). É provável que Pedro
tenha em mente as ciladas do diabo como a causa da ansiedade que
seus ouvintes estavam experimentando. Como notamos anteriormente, Pedro instrui os membros da igreja a padecer em nome de Cristo, aceitando o sofrimento como parte da vontade de Deus (1Pe
4:12-19). Essa associação entre Satanás e a perseguição compreende
entender que às vezes Deus permite que o diabo atue em momentos
específicos de nossas vidas (Jó 1:1-2:13; Ap 2:10).
Entretanto, Deus não permite o sofrimento de Seus filhos porque
tem prazer nisso. Deus nem mesmo tem prazer na morte de um pecador, esperando, em vez disso, que o pecador se converta e viva
(Ez 18:31). Isso quer dizer que Deus não é um masoquista que sente
prazer ao ver uma pessoa sofrendo. O causador do sofrimento, e do
mal que vivemos, não é Deus (Tg 1:13-15), mas o diabo, a serpente do
Éden (Gn 3:1-7; 4:1-8). E é o inimigo, não Deus, que anda como um
leão rugindo em busca de presas com o propósito de destruí-las (1Pe
5:8). Ao contrário do diabo, Deus nos ama, a ponto de enviar Seu
Filho unigênito ao mundo, “como propiciação pelos nossos pecados”
(1Jo 4:10). Jamais nos esqueçamos disso.
O propósito do sofrimento, quando o entendemos sob a perspectiva bíblica, consiste em reconhecer que Deus nos permite experimentá-lo porque Ele deseja nos ensinar alguma coisa (Tg 1:2-4). Pedro
diz que nossa fé é semelhante ao ouro (1Pe 1:7). E assim como o
ouro deve passar pelo fogo para saber se é autêntico ou não, a fé,
depois de passar pela prova da aflição, “resultará em louvor, glória e
honra, quando Jesus Cristo for revelado” (1Pe 1:6,7, NVI). Portanto,
evitemos cair na armadilha de pensar que, só porque somos filhos e
filhas de Deus, estamos protegidos contra qualquer tipo de sofrimento. Infelizmente, e a partir de nossa experiência cristã, sabemos que
o resultado é totalmente oposto ao que muitas vezes é pregado. Pois,
como afirma Paulo, “todos os que querem viver piedosamente em
Cristo Jesus serão perseguidos” (2Tm 3:12).
No entanto, o sofrimento não durará eternamente. Porque, nas palavras de Pedro, Deus nos exaltará quando for o momento (1Pe 5:6).
Esse momento pode ser agora, ou talvez na segunda vinda de Jesus.
Independentemente de qual seja o caso, Jesus em algum momento
fará justiça e nos restaurará. O importante para Pedro, no entanto, é
o efeito discipulador que o sofrimento tem, e isso nos leva a reconhecer que o grande Mestre espera que Seus filhos e filhas depositem
Nele toda a sua ansiedade (1Pe 5:7).
É verdade que a experiência da ansiedade não é agradável, e o
conflito que vivemos às vezes nos deixa exaustos. No entanto, é
transcendental nesse contexto reconhecer a visão compreensiva
que a Escritura tem a esse respeito. Isso significa ter em mente
que, embora “nenhuma disciplina pareça ser motivo de alegria no
momento, mas sim de tristeza”, uma vez passada, essa experiência
produzirá “fruto de justiça e paz para aqueles que por ela foram
exercitados” (Hb 12:11).
Os frutos prometidos implicam crescer em graça e caráter. Em
graça, porque teremos suportado a provação unicamente protegidos
sob Suas asas. Em caráter, porque, ao sairmos do sofrimento que
Ele nos permitiu experimentar, nossa leitura do mundo e do nosso relacionamento com Deus será diferente. Pois, como diz Tiago
em sua epístola, a fé que é provada produz paciência (Tg 1:2). Dessa maneira, depois que a aflição passar e aprendermos a depender
de Deus, poderemos descansar nessa promessa. E não somente isso,
pois também teremos a capacidade espiritual de ver como o Senhor
constantemente nos encoraja, sabendo que no momento de ansiedade que podemos estar vivendo, podemos confiar que, ao lançar
todas as nossas inquietudes sobre Ele, estamos sob o cuidado de Sua
poderosa mão.

CONCLUSÃO
O conselho de Pedro contra a ansiedade humana consiste em lançar nossas cargas e nosso problemas sobre Deus. Isso significa que
devemos orar e acreditar que o Senhor está preocupado e cuida de
nós. O diabo é sem dúvida uma fonte de ansiedade, que procura nos
destruir. Por isso, devemos resistir às suas artimanhas. E, para que
isso aconteça, temos que estar conscientes de seus ataques e reconhecer, em humildade, que nossa única esperança está no Senhor.
Bem, não nos esqueçamos: “Deus Se opõe aos orgulhosos, mas concede graça aos humildes” (1Pe 5:5, NVI).


Oremos para reconhecer que, sem o Senhor, nada somos. Em um ato de humildade, e deixando de lado o orgulho, oremos para abandonar nossas tendências de superioridade e independência. Ao lançar nossa ansiedade sobre Deus, estamos nos submetendo à Sua vontade, proclamando publicamente que Ele é nosso Deus e que confiamos apenas Nele. Por isso, creiamos e aceitemos que o propósito de nosso sofrimento tem o objetivo de transformar nosso caráter.