Pr. Vanderman
“As pessoas sempre sentiram um anseio para conquistar as alturas, explorar o desconhecido. Parecemos incuravelmente curiosos, os picos espirituais nos atraem. Os altíssimos locais que escondem os mistérios de Deus nos fascinam, as alturas das grandes experiências espirituais nos chamam, ecoam como um apelo intrépido. Mas aqui, no “mundo de verdade”, a vida espiritual pode parecer muito distante, o próprio Deus pode parecer inacessível. Em nossos estreitos caminhos duvidamos: será que posso vencer as barreiras? Conseguirei chegar acima das nuvens?
Muitas pessoas são atraídas para a vida espiritual, mas sentem que a escalada é muito alta. Os “cristãos vitoriosos” podem intimidar um pouco. Os testemunhos de gloriosas experiências daqueles que atingiram o topo às vezes nos assustam. Presumimos que tais coisas estão fora do nosso alcance.
Podemos olhar com admiração para aqueles que conquistaram as alturas. Grandes missionários, santos notáveis, pastores eloquentes. Mas muitos de nós estamos inclinados a pensar que os grandes sucessos espirituais pertencem a uns poucos escolhidos. As pessoas dizem: “se ao menos eu tivesse esse tipo de fé…”
Homens e mulheres de fé. É assim que chamamos esses heróis espirituais. Em Hebreus, capítulo 11, encontramos uma enorme lista de heróis bíblicos, pessoas que deixaram tudo pela terra prometida, atravessaram o Mar Vermelho, conquistaram exércitos estrangeiros, e aceitaram o martírio. E fizeram isso tudo pela fé. Todos os seus grandes feitos aconteceram pela fé. É assim que as coisas acontecem na vida cristã. A fé é o combustível que impulsiona a espiritualidade.
Os escritores do Novo Testamento são muito claros a respeito disso. Eles nos dizem que somos salvos pela fé, perdoados pela fé, justificados e santificados pela fé e entusiasmados pela fé. Eles nos dizem que Cristo habita em nosso coração pela fé, que venceremos o mundo pela fé, que caminhamos no Espírito pela fé. Tudo acontece pela fé.
Todas aquelas frases religiosas que por vezes nos mistificam, tais como: “purificados pelo sangue, cheios do Espírito”, estão relacionadas com a fé. Portanto, é verdade: a fé é a chave para o crescimento na vida espiritual, para o sucesso na escalada da montanha. Porém, não é verdade que a fé é um dom apenas para uns poucos escolhidos, a fé não é algo que somente uma elite obtém.
Eu gostaria de esclarecer alguns conceitos errados que muitas pessoas têm a respeito da fé, e analisar com você como a fé funciona de fato. Vamos descobrir que a fé é uma reação muito natural e que o progresso na vida espiritual também é um processo muito natural. Faremos isso examinando o modo como se escala as montanhas de verdade.
Bem, o primeiro conceito errado que as pessoas têm é o de que a fé é um empreendimento muito superficial, como um salto em pleno ar. Pensam que precisam fechar os olhos ao que se vê para tornar o que não se vê mais real, ou imaginam que a fé é uma desesperada tentativa para realizar o improvável. Mas ouça, o alpinista não salta, ele dá passos bem cuidadosos. Seus olhos estão bem abertos. Ele se concentra em cada borda e fenda da montanha.
A fé funciona do mesmo modo. Em primeiro lugar há uma forma correta de olhar, de se concentrar na coisa certa e então dar os passos apropriados. A fé não é uma conquista vaga e mística; mas é tão somente olhar. A Bíblia nos manda olhar para Jesus. Logo após o capítulo onze de Hebreus, o famoso capítulo da fé, vem a descrição de como disputamos a corrida cristã: “Olhando firmemente para Jesus, o autor e consumador da fé… ” Hebreus 12:2.
Como conseguimos progresso? Olhando para Jesus e nos concentrando nEle. Colossenses 3:1 nos diz: “Buscai as coisas que são de cima, onde Cristo está…” Em II Coríntios 3:18 lemos: “E todos nós com o rosto desvendado, contemplando, como por espelho, a glória do Senhor, somos transformados… na sua própria imagem…”
Somos transformados contemplando a Cristo e nos concentrando nEle. Essa é a essência da fé: olhar para Jesus. É simplesmente isso.
Muitas pessoas pensam que precisam gerar fé suficiente para fazer a vida cristã funcionar. Estão sempre lamentando o fato de parecerem não ter fé suficiente; elas se concentram em sua fé e se esforçam para obter mais. Mas não nos é pedido que olhemos para a nossa fé, é pedido que olhemos para Jesus. A essência da fé é não olhar para nós mesmos, mas para Cristo.
Sabe, nós não temos que ter fé na fé; temos que ter fé em Cristo, que é fiel. A fé é o resultado natural da concentração em Cristo, que é confiável. Ela não tem que ser gerada artificialmente.
Vamos voltar agora para a montanha. O alpinista sobe a rocha prendendo a corda de modo firme aos ganchos e movimentando-se em direção a eles. Ele tem que se prender à montanha. Na verdade, ele está usando a força da própria montanha para escalar um de seus lados. Ele está dependendo desse pico imóvel para apoiar seu peso. A possibilidade de o alpinista derrubar a montanha, é claro, é absurda. Ele confia que o pico permanecerá firme.
Sabe, é assim que a fé nos ajuda a subir também. Ela nos prende firmes à montanha, a Deus. E se estivermos presos, Sua força é transferida para nós. Sua confiabilidade nos dá a alavanca.
O alpinista é cuidadoso ao pregar os ganchos em intervalos regulares para que a corda fique firmemente presa à montanha. Aqui novamente está outra lição. Precisamos nos prender a Deus a intervalos regulares. Como? Passando algum tempo concentrados nEle, olhando para Ele. Precisamos de horários regulares para lermos e meditarmos sobre o caráter de Cristo. Precisamos absorver a vida do Espírito em Sua palavra, e precisamos abrir o coração a Cristo em oração.
Esse tipo de olhar cria a fé. Você quer mais fé? Então olhe mais para Jesus. Não há substituto para esse olhar devocional que nos prende à montanha. Quando desprezamos esse apego vital, caímos e podemos nos ferir. Mas isso não significa que a montanha nos abandonará. Não, Deus nos segura através da medida de fé que temos. Quando caímos, precisamos entrar em contato com a montanha outra vez, precisamos nos prender de novo e nos agarrar firmemente a ela. Existe uma coisa interessante a respeito de um mecanismo usado no alpinismo, chamado “amigo”. Você logo saberá por que ele tem esse nome. O alpinista o segura e o puxa para trás enfiando-o em seguida a uma fenda na montanha. Depois, prende a corda nele e o abre. Sabe como ele fica agarrado à rocha? Quando a corda é puxada, as peças são forçadas a abrir. O mecanismo se alarga e se prende cada vez mais firme de modo que quanto mais se pressiona o “amigo”, mais firmemente ele prende.
Nossa fé também se expande com a pressão. Quanto mais dependemos dela, mais peso lhe confiamos, de modo que mais forte ela se torna. A fé cresce através do exercício.
Suponhamos que alguma coisa o esteja preocupando demais. Eu o desafio a colocar conscientemente o problema nas mãos de Deus. Diga-Lhe que confia nEle para ajudá-lo na solução, e assim, veja o que acontece. Você descobrirá que pode confiar na ajuda e sua fé crescerá.
Digamos que você vê alguém em necessidade. Peça a Deus força interna para ajudar tal pessoa. Vá e estenda a mão. Você verá Deus atuar por seu intermédio e sua fé crescerá. A fé não cresce em um vazio. Ela não chega até aqueles que ficam sentados esperando por ela. A fé surge para aqueles que escalam a montanha. Você quer mais fé? Use a que você tem. Siga avante por ela. O passo da fé não é um passo em direção ao nada; é um passo dado enquanto você se segura na corda, confiando na força de Deus. Assim, por favor amigo, segure firme. Segure com toda a sua força, porque quanto mais firme segurar, mais firme você se sentirá.
Há uma maravilhosa liberdade em estar seguramente preso ao Pai Celeste. Paisagens inspiradoras se abrem àqueles que aprenderam a olhar e se concentrar em Jesus. A disciplina de uma vida devocional regular abre muitas novas possibilidades para nós. É emocionante descobrir quão confiável é de fato o Senhor.
Confie em Cristo. Há uma paz maravilhosa em uma vida baseada nisso. Muitas pessoas pensam na fé como algo totalmente passivo, como um último recurso após todos os esforços terem falhado. Quando nada funciona, você “deixa correr” e tem fé de que as coisas de algum modo vão melhorar. Esforçar-se e ter fé são vistos quase como opostos. Você pode fazer um ou o outro mas não ambos. Bem, ouça o conselho que o apóstolo Paulo deu ao seu jovem discípulo Timóteo: “Combate o bom combate da fé”. I Timóteo 6:12.
O bom combate da fé. Isso parece passivo? Ouça, a fé é um princípio dinâmico e ativo. É o alicerce de todo esforço frutífero. É verdade que haverá ocasiões em que tudo o que podemos fazer é ficar pendurados. Há ocasiões em que a nossa fé deve simplesmente segurar a mão de Deus e esperar. A vida não é uma longa subida ininterrupta. Mas quando formos capazes de seguir para cima, a fé deve ser uma parte vital de nossos esforços. Portanto vamos olhar mais de perto agora como a fé e o esforço interagem.
Pense de novo na frase de Paulo: “O bom combate da fé.” Note que ele não disse “o bom combate ao pecado”, ou “o bom combate da justiça”. Não, o bom combate que Paulo recomenda relaciona-se à fé. E em que consiste a fé? Olhar para Jesus. Eu creio que Paulo está dizendo que nossa luta principal deve ser a de manter o olhar em Jesus. Manter aquela comunicação regular ativa, manter a vida devocional intacta. Esse é o combate da fé.
Se nosso combate for dirigido primeiramente contra o pecado, teremos dificuldade em progredir. Se nos concentrarmos no pecado, nos problemas, será fácil desanimar e tropeçar. Existem incontáveis pessoas sinceras que vivem terrivelmente frustradas por estarem olhando para os pecados. Elas querem superá-los, elas querem adquirir boas qualidades, mas sua fé, seu foco de atenção, está mal direcionado. Se pudéssemos apenas colocar os melhores esforços na concentração em Jesus, poderíamos realizar muitas coisas. Ele é a força motivadora por trás de todo o nosso progresso.
É verdade que somos aconselhados a “buscar sempre a justiça”. E é verdade que existem vezes em que devemos lidar com o pecado. Mas temos sempre que olhar para essas coisas através de Jesus, nunca separados dEle. Só poderemos lutar quando estivermos firmemente presos à montanha.
Veja como um alpinista se move montanha acima. Ele certamente não é passivo. Ele não é empurrado para cima. O alpinista está totalmente envolvido. Existe um esforço verdadeiro produzido por ele. Mas seu esforço é primeiramente direcionado para uma coisa: permanecer agarrado à montanha. Ele se concentra na montanha e a corda o prende firmemente a ela. Quanto mais perto ele fica da montanha, mais seguramente ele segue para cima.
Aqui, portanto, está o equilíbrio entre a fé e o esforço. Estamos seguramente presos à fé pela força da montanha. E estando firmemente seguros podemos seguir para cima. Nós nos escondemos na “fenda da rocha”, como a Bíblia diz, todavia progredimos dentro dela. Dependemos totalmente da confiabilidade de Deus e ao fazer isso, tornamo-nos fortes também.
O esforço é importante, mas existe o que podemos chamar de esforço bom e esforço ruim; esforço frutífero e esforço inútil. Existe um bom combate e um combate estéril. A diferença é a fé. A fé nos dá segurança, sabemos que somos aceitos por Deus incondicionalmente; temos uma corda para segurar.
Ninguém pode crescer, ninguém pode progredir sem esse senso de aceitação de Deus. Esforços sem Ele são inúteis. Sem essa segurança as pessoas se esforçam para ser boas a fim de serem aceitas. Isso é como tentar escalar o lado de uma montanha para se prender a ela. Impossível! Temos que nos prender primeiro. Temos que colocar a fé na aceitação incondicional de Deus primeiro. Aí a fé nos dará a alavanca.
Ao olharmos para Jesus começamos a absorver Suas qualidades; passamos a partilhar de Sua força. Percebemos quão confiável Ele é e achamos mais fácil caminhar na fé, apoiar-se na montanha e subir. A fé nos dá a alavanca. Por isso Judas pôde dizer as seguintes palavras em sua pequena carta: “Edificando-vos na vossa fé santíssima…” (Judas 20)
Sem essa alavanca os esforços acabarão em frustração. Ao tentar subir com nossas próprias forças, escorregaremos constantemente. É como tentar escalar a montanha olhando para os pés o tempo todo. Se não nos concentrarmos na montanha, não conseguiremos nos prender a ela. Não sou lá um grande alpinista, mas já escalei até quatro mil e quinhentos metros numa das maiores montanhas do mundo. Estou falando hoje sobre um assunto do qual entendo um pouco e talvez isso nos ajude a entender um pouco melhor a fé.
A fé nos dá segurança e apoio – duas coisas essenciais para escalar a montanha. E o mais maravilhoso é que estes dois ingredientes reforçam um ao outro. Quanto mais seguros nos sentirmos, mais usaremos a montanha como alavanca e quanto mais alavanca usarmos, mais seguros nos sentiremos.
A vantagem em crescer na fé é que não nos afastamos de Deus ao nos aproximar do pico. Aqueles que tentam escalar sozinhos, enfrentam esse problema. Quanto mais superficial for a justiça obtida, menos se sente a necessidade de depender de Deus. E quanto menos se depende dEle, mais superficial se torna a integridade.
Mas aquele que escala pela fé, fica cada vez mais junto da montanha ao se aproximar do pico. Sua concentração aumenta e ele ganha mais experiência no uso de cada fenda, de cada fissura. Cada passo para cima ensina como depender mais de Deus e como conquistar mais. Quando nosso apego a Deus se torna tão intenso assim, tão íntimo, descobrimos que, na fé, podemos fazer até o impossível.
Sim, a fé pode nos levar diretamente ao topo. Cada um de nós pode progredir espiritualmente na vida. Tudo que precisamos é manter o apego à montanha. Jamais se esqueça disso.
Você vai se empenhar no bom combate da fé? Vai dedicar tempo todos os dias concentrando seu olhar em Jesus? Não há substituto para isso. Não há outro caminho para tornar nossos esforços verdadeiramente frutíferos.
Você pode experimentar, através de um contato íntimo com Cristo a maravilhosa verdade da declaração de João: “E esta é a vitória que vence o mundo, a nossa fé”.
Oração
Querido Pai, obrigado por tornares a fé tão simples. Obrigado por haver tanta força em apenas olhar para Jesus. Ajuda-me a concentrar o olhar nEle. Ajuda-me a dedicar um tempo cada dia para essa disciplina tão essencial. Mantenha-me firmemente preso a Ti ao seguir rumo ao topo da montanha. Amém.